O Botafogo pode brigar pelo que
neste Campeonato Brasileiro? A resposta para a pergunta feita inúmeras vezes no
início da competição não previu uma realidade tão amarga 34 rodadas mais tarde.
A defesa sempre foi de que o elenco não se encaixava entre os piores do Brasil
e que seria possível fazer um campeonato tranquilo para garantir uma vaga na
Sul-Americana.
+ Botafogo é campeão
brasileiro a ter queda mais precoce
A terceira queda do clube à
segunda divisão nacional foi confirmada na noite desta sexta-feira, quando o
Botafogo foi derrotado pelo Sport por 1 a 0 no Estádio Nilton Santos.
O Botafogo só conseguiu quatro
vitórias em 34 jogos pelo Brasileirão. O time acumulou 18 derrotas e 12 empates
no campeonato. Fez 28 gols e sofreu 53.
A tranquilidade nunca foi um fato para o Botafogo. E o fim trágico, na lanterna da competição, pode ser explicado por alguns momentos que comprometeram o resultado ao longo dos últimos meses. O ge listou o top 5:
1. Demissão de Lazaroni
A frequente troca no comando
técnico do Botafogo foi, de fato, um agravante para o desempenho do time, mas
uma mudança merece o top 1, a demissão de Bruno Lazaroni. Efetivado treinador
no dia 1 de outubro, o até então auxiliar permanente da comissão técnica durou
apenas 28 dias no cargo, mesmo tendo um dos melhores aproveitamentos entre os
comandantes do time na temporada.
Das quatro vitórias que o
Botafogo conquistou até o momento no Brasileirão, duas foram sob o comando de
Lazaroni. Foram seis jogos, com duas vitórias, dois empates e duas derrotas -
44,4% de aproveitamento.
A forma como aconteceu a
demissão expôs a falta de profissionalismo dos dirigentes. O motivo da decisão
teria sido a derrota para o Cuiabá pelo jogo de ida das oitavas de final da
Copa do Brasil. Lazaroni não teve a chance de tentar se recuperar na volta muito
em função da escalação de um jogador específico, o volante Cícero, que não
contava com o prestígio do comitê executivo de futebol.
Como se deu a saída do
técnico?
Comitê não aprovou a escalação
do jogo com o Cuiabá, principalmente a utilização de Cícero, e já no intervalo
da partida avisou ao gerente de futebol Túlio Lustosa da decisão de não
permanecer com o treinador;
Túlio e outros dirigentes
defenderam a permanência de Lazaroni e tentaram, em vão, fazer com que os
membros do comitê mudassem de ideia;
Botafogo convidou, e Bruno
aceitou voltar a ser auxiliar técnico;
Na noite após a demissão,
Carlos Augusto Montenegro deu entrevista coletiva e expôs os motivos da saída
de Lazaroni: "A falta de ânimo, a mesma escalação, isso me incomoda. Não
teve nada de diferente, foi patético";
O profissional voltou atrás e
pediu o desligamento do clube no dia seguinte.
Depois disso, o Botafogo caiu
de vez no Brasileirão e teve apenas uma vitória nos 17 jogos seguintes até ser
confirmada a queda para a Série B.
2. Trocas de técnico
O top 2 é um complemento do primeiro: a demissão de Lazaroni é marcante, mas, no geral, as trocas no comando do time ao longo do último ano foram problemáticas e refletiram no desempenho dos jogadores. O principal problema é que o Botafogo caminhou para a reta final do campeonato sem padrão de jogo e nenhuma convicção sobre o futebol que joga.
Foram cinco técnicos na
temporada 2020, sendo quatro no Campeonato Brasileiro. A primeira demissão
aconteceu ainda no Campeonato Carioca, em fevereiro, com a saída de Alberto
Valentim, treinador que ajudou a pensar o planejamento e a montar o elenco. O
episódio não surpreendeu, já que meses antes Carlos Augusto Montenegro, em
áudio vazado, adiantou que não gostava da ideia de manter Valentim para o ano
seguinte.
Em poucos dias, Paulo Autuori
assumiu o elenco e se firmou no comando do Botafogo. Técnico que mais durou na
gestão de Nelson Mufarrej, ao lado de Zé Ricardo, Autuori foi quem fez o time
jogar melhor na temporada. O excesso de empates no início do Brasileirão
incomodou e esgotou jogadores e treinador, que saiu no dia 1 de outubro.
Não foi só com treinadores: o
Botafogo também promoveu um carrossel no elenco com muitas contratações e ao
colocar em campo 56 jogadores nessa temporada.
A opção do comitê de futebol
foi efetivar Bruno Lazaroni, demitido 27 dias depois, como citado acima. Os
dirigentes estavam cientes da falta de experiência e, mesmo assim, não tiveram
paciência para sustentar a decisão tomada no início do mês.
Sem tempo a perder para buscar
o novo comandante, o Botafogo perdeu tempo enquanto o preparador de goleiro
Flavio Tenius treinava a equipe. Depois de algumas tentativas e negociações
fracassadas, o clube fechou com o argentino Ramón Díaz, que foi dispensado
antes mesmo de assumir. Enquanto se recuperava de uma cirurgia, ele foi
substituído pelo filho e auxiliar Emiliano Díaz, que perdeu os três jogos em
que esteve no comando.
O clube então, vendo a
confusão que se criou e a derrocada no Brasileirão, optou novamente pela
solução caseira e trouxe Eduardo Barroca de volta. Desde então, são dez
derrotas, um empate e uma vitória - aproveitamento de 11,1%.
Os 5 técnicos do Botafogo em
2020:
Alberto Valentim: 3 vitórias /
1 empates / 3 derrotas = 48% de aproveitamento
Paulo Autuori: 6 vitórias / 13
empates / 2 derrotas = 45% de aproveitamento
Bruno Lazaroni: 2 vitórias / 2
empates / 2 derrotas = 44% de aproveitamento
Ramón Díaz: 3 derrotas = 0% de
aproveitamento
Eduardo Barroca: 1 vitória / 1
empates / 10 derrotas = 11% de aproveitamento
3. Contratações sem critério
Vinte e cinco. Esse é o número
de reforços contratados pelo Botafogo na temporada 2020. Desses, seis já
deixaram o clube e outros dois estão afastados e não disputam mais o
Brasileirão.
Cinco deles têm status de
titular: Kevin, Victor Luis, Zé Welison, Bruno Nazário e Pedro Raul. Rafael
Forster e Matheus Babi foram frequentemente utilizados. Três têm contrato
encerrando em fevereiro e devem sair, com exceção de Guilherme, que terá sua
situação analisada. Outros são alvos de acordos para encerrarem a passagem por
General Severiano.
Apesar da lista imensa de
contratados, quem mais correspondeu foram crias da base. Caio Alexandre é o
recordista de jogos na temporada, com 48. No Brasileirão, quem mais entrou em campo
foi Kanu: 33 vezes.
Mesmo com tantas contratações, o Botafogo sentiu falta de zagueiros, laterais, meias e atacantes ao longo da temporada. O clube perdeu seus dois principais pontas de velocidade - Luiz Fernando e Luis Henrique - e não conseguiu repor com os nomes buscados no mercado.
As 25 contratações do Botafogo
em 2020:
Zagueiros: Ruan Renato (já
deixou o clube) e Rafael Forster
Laterais-direitos:
Barrandeguy, Kevin e Gustavo Cascardo
Laterais-esquerdos: Guilherme
Santos, Danilo Barcelos (já deixou o clube) e Victor Luis
Volantes: Thiaguinho (já
deixou o clube), Luiz Otávio, Carlos Rentería (afastado) e Zé Welison
Meias: Bruno Nazário, Honda
(já deixou o clube), Gabriel Cortez (já deixou o clube), Éber Bessa (já deixou
o clube) e Cesinha
Atacantes: Pedro Raul, Matheus
Babi, Kalou, Davi Araújo, Lecaros, Warley, Kelvin (afastado) e Angulo
4. Aproveitamento como
mandante
O Botafogo é o pior mandante
do Campeonato Brasileiro e conseguiu apenas duas vitórias atuando no Nilton
Santos. Além do triunfo em cima do Palmeiras, em 7 de outubro de 2020, a outra
foi bem no início do campeonato, na quarta rodada, quando derrotou o
Atlético-MG também por 2 a 1. Soma ainda cinco empates e dez derrotas.
Em casa, o Botafogo viveu momentos que explicam a queda para a Série B. Nas 21ª e 22ª rodadas, o time teve dois jogos em sequência no Nilton Santos contra adversários diretos na parte de baixo da tabela: perdeu para Bragantino e Fortaleza, respectivamente. A situação se repetiu nas 27ª e 28ª rodadas, quando teve a chance de continuar reação após vitória fora sobre o Coritiba, mas foi derrotado por Corinthians e Athletico-PR no Rio.
A campanha ruim no Nilton
Santos tem o episódio mais triste da temporada: o rebaixamento foi confirmado
com nova derrota em casa na noite da última sexta.
O aproveitamento não é só o
pior entre os times desta edição, mas é a pior campanha do Botafogo como
mandante desde 2006, quando o campeonato passou a ser disputado com 20 times.
Em 2014, quando também foi rebaixado, o clube teve oito vitórias, cinco empates
e seis derrotas em casa.
5. Desânimo e falta de
comprometimento
Marcou também a campanha do
rebaixamento a clara falta de comprometimento de alguns jogadores do elenco com
o momento delicado da equipe. No dia 9 de dezembro, na goleada sofrida para o
São Paulo em jogo adiado da 18ª rodada, o ge trouxe um panorama do clima no
vestiário: acomodação e pouca indignação, o que levou os dirigentes a iniciarem
ações de motivação.
Sem reação: o Botafogo acumulou duas sequências de 10 jogos sem vencer. A pior foi entre as rodadas 16 e 25, com oito derrotas e dois empates.
Em vão. Rodada após rodada o
time continuou a jogar a toalha e a se acostumar com os resultados negativos.
Eduardo Barroca tentou inúmeras alterações, mas não conseguiu a resposta que
esperava, a não ser nos jogos contra Internacional (derrota) e Coritiba
(vitória). Faltou vontade e entrega.
Com o time na zona de
rebaixamento e acumulando derrotas em sequência, jogadores foram flagrados em
baladas, mesmo em meio à pandemia, enquanto outros chegavam atrasados para os
treinos. Depois de tentar resolver internamente, o Botafogo divulgou episódios
de indisciplina nos últimos dias e mudou a escalação. Mas já era tarde.
Do ge
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