Eu
vou agora, mas irei voltar assim que possível", disse Marisol Lopez, 38,
pouco antes de embarcar em ônibus com destino a Venezuela. Há 9 meses em Boa
Vista, ela aderiu ao programa de "Volta à Pátria" de Nicolás Maduro, e, junto com outros 116 imigrantes, deixou o Brasil na manhã desta quinta-feira (27).
Levando comida e remédios,
itens escassos no país, Marisol viajou à cidade natal de Barcelona, estado
Anzoátegui, na costa Leste do país, para cuidar de uma filha que está doente.
"O dinheiro que tinha
usei para comprar comida e remédios que levo agora para casa", explicou a
venezuelana, que trabalha fazendo bicos como empregada doméstica e mora de
aluguel.
Ela viajou com uma filha de
oito anos e deixou outros dois em Boa Vista. No embarque, já fazia planos para
a volta.
"Minha meta é morar no
Brasil junto com meus seis filhos, porque na Venezuela não há como viver".
Dois ônibus fretados por
empresários venezuelanos saíram da frente da Rodoviária Internacional da
capital às 9h40 (hora local) levando os imigrantes.
Os veículos seguem até
Pacaraima, na fronteira, e de lá os venezuelanos embarcam em outros ônibus
oferecidos pelo governo Maduro.
O governo de Roraima, que há
uma semana fez um acordo em Caracas para ajudar nas repatriações, não
participou desta ação.
"Não somos do governo
venezuelano e nem brasileiro. Somos empresários e cristãos que fretamos os
ônibus para ajudar os imigrantes que estão aqui, em um país estranho, vivendo
na rua e querendo voltar a Venezuela. Para ir só é preciso apresentar a cédula
de identidade venezuelana", disse Eric Gana, que coordenou a ida dos
imigrantes.
Ele disse que a partir da
fronteira, a 215 KM de Boa Vista, os venezuelanos são levados pelo programa
"Volta à Pátria", plano criado por Maduro para apoiar venezuelanos
que queiram voltar à terra natal. Na quarta (26) outro ônibus levou 35
imigrantes de volta ao país.
"Já se foram mais de 2
mil venezuelanos por esse programa só aqui em Roraima", afirmou Eric, se
referindo a repatriações já feitas em Boa Vista e em Pacaraima. Entre as ações,
segundo ele, está a ida de 1,2 mil venezuelanos expulsos de Pacaraima após
protesto de moradores em 18 de agosto.
Desempregado, um
ex-trabalhador da empresa venezuelana PDVSA de 43 anos também decidiu voltar
para casa. Ele levou pacotes de arroz, açúcar e pães para dividir com os três
filhos que vai encontrar em Puerto La Cruz.
"Aqui não consegui
trabalho, e nem um lugar para morar, estava na rua", disse, afirmando que
não faz planos de voltar para o Brasil. "Aqui tem comida, mas não
emprego".
Andres Perez, 61, saiu do
abrigo para refugiados Jardim Floresta (um dos 10 que existem em Roraima) para
pegar o ônibus e voltar temporariamente a Venezuela. A ideia dele é regressar
ao Brasil asssim que possível.
"Quero ir visitar minha
mãe que está com câncer e voltar em no máximo 15 dias. Estou recomeçando a vida
no Brasil. Já tenho filhos e netos aqui", disse Perez, que está há mais de
1 ano em Roraima.
Por dia, ao menos 500 venezuelanos
cruzam legalmente a fronteira do Brasil em fuga, principalmente, da escassez de
comida e remédios vivida no regime de Maduro.
Desde 2015, Roraima recebe
um número crescente de venezuelanos. Em três anos e meio já são mais de 75 mil
pedidos de refúgio ou residência temporária só no estado.
Com a chegada de milhares de
venezuelanos, 10 abrigos públicos foram abertos em Boa Vista e na fronteira com
capacidade para 5 mil pessoas, e o governo federal tem ofertados voos de para
levar refugiados a outros estados do país.
Apesar disso, ainda é comum
ver venezuelanos vivendo em acampamentos precários e improvisados pelas ruas de
Boa Vista.
"Eu não volto, porque
na Venezuela a situação é muito pior que aqui", disparou Abraham Precilla,
32, ao ver venezuelanos embarcarem nos ônibus com destino ao país natal.
"O que quero é ter um emprego e trazer minha família para cá".
Fonte : G1
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