Para
tirar do papel um projeto social que ensina inglês, de graça, para moradores do
Complexo do Alemão, no Rio, a professora carioca Cláudia Bellizzi precisou
basicamente de três coisas: boa vontade (que ela e muitos voluntários parecem
ter de sobra), algum dinheiro e redes sociais.
Lá da Inglaterra, onde mora
há cinco anos, ela criou um curso batizado de The English Club Alemão. As aulas
começaram em fevereiro com três turmas de 15 alunos cada uma – duas de crianças
e uma de adultos. Neste sábado (14), tiveram início mais duas novas turmas,
cada uma com mais 20 crianças da comunidade, que fica na Zona Norte do Rio.
Tudo é gratuito, incluindo o material didático.
“Aí, pensei: vou dar um
jeito de oferecer aulas de inglês gratuitas e de qualidade para os moradores de
alguma comunidade.”
O curso começou na cabeça e
no bolso de Cláudia, mas ela foi logo encontrando parceiros e voluntários.
"É muito recompensador ver que uma ideia bacana que eu tive e que está
dando supercerto, está tendo uma resposta muito boa da comunidade, está também
provocando outras ondas positivas", diz.
Professora da comunidade
Cláudia Bellizzi diz que foi
pela internet que estreitou laços com moradores do Alemão, especialmente
através de Renê Silva, criador do jornal “Voz das Comunidades”. Ele a ajudou a
montar o curso e acabou, inclusive, virando aluno.
Também do Alemão é a
estudante de letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Nathalia
Nascimento, contratada para dar as aulas no curso – é Cláudia quem banca os
salários da professora.
"A escolha de Nathalia
foi feita dentro do conceito que norteou o projeto desde o início: dar vez a
pessoas que tenham laços com a comunidade. A Nathalia tem raízes na comunidade,
tem enorme carinho pelo Alemão”, diz a criadora do curso.
Lá da Inglaterra, Cláudia
treinou Nathália no conceito pedagógico e, com ela, acompanha à distância as
aulas e os alunos.
"Eu me sinto
extremamente feliz e realizada em participar desse projeto. Eu e Cláudia temos
reuniões semanais via Skype e nos falamos diariamente pelo WhatsApp. Além de
discutir questões administrativas, nós preparamos, juntas, as aulas de todas as
turmas, e avaliamos continuamente como está sendo o andamento do curso",
diz Nathália.
Para quem faz o curso, como
a esteticista Géssica Maria Machado, de 28 anos, o projeto é uma maneira de
motivar os moradores da comunidade.
"Já há muito tempo é
fundamental que qualquer profissional, seja lá de que área for, tenha um
conhecimento razoável da língua inglesa. O curso é importante demais e o fato
de ser muito voltado à conversação torna a experiência ainda mais rica”, diz
Géssica.
A aluna comemora: “Recebemos
a visita de americanos e ingleses e ficamos felizes quando percebemos que
podíamos conversar no idioma deles. De certa forma, isso muda nossas vidas”.
Material didático da
Inglaterra
Para as primeiras turmas do
curso, quem bancou o material didático, todo vindo da Inglaterra, foi a própria
Cláudia. Mas a "onda positiva" que, como diz Cláudia, vai se
espalhando, trouxe uma parceria ao projeto, a Cambridge University Press,
editora voltada a projetos educacionais, que já começou a fornecer livros e
cadernos. O curso também tem recebido doações de cadernos, lápis, canetinhas e
outros materiais. As aulas são dadas em uma sala cedida pela Igreja Batista
Filha de Sião.
"Para mim, os projetos
sociais são extremamente relevantes, pois ajudam a mudar a realidade, muitas
vezes precária, de um conjunto de pessoas. Criam uma grande onda do bem e
ajudam a espalhar esse sentimento por vários lugares”, diz Nathália.
Professora voluntária
A iniciativa tomada por
Cláudia do outro lado do Atlântico acabou motivando também gente de fora da
comunidade do Alemão, como a professora Elvira Souza, que ficou sabendo do
curso por uma reportagem de jornal.
"Não sei bem explicar o
motivo, mas aquilo mexeu comigo. Tive certeza de que precisava participar
daquele iniciativa", relembra. Veterana de outros programas sociais,
decidiu naquele mesmo dia procurar por Cláudia para se oferecer como
voluntária. Depois de encontrá-la nas redes sociais, de longas conversas e de
um treinamento, tornou-se professora do curso.
O resultado do empenho
começou a ser visto neste sábado, quando Elvira assumiu duas turmas do English
Club Alemão – ao todo serão 35 alunos, cujas idades variam entre 9 e 12 anos.
Um número que, segundo ela, poderá aumentar em pouco tempo.
Professor gringo
O americano Timothy
Cunningham, o Tim, tem um canal no YouTube em que ensina inglês. Amigo de Renê
Silva (“conheci no churrasco”, diz), ele soube do English Club Alemão, recebeu
um convite para visitar a comunidade e acabou dando uma aula.
“Ele me deu um tour no
complexo. Dei aula para as crianças, foi muito legal. Acho que era o primeiro
gringo que a maioria conheceu. Fui com meu irmão, que não fala português. Eles
são muito interessados”, lembra Tim, que mora em Nova Jersey, nos EUA, e diz
ter aprendido português com amigos brasileiros.
“Pode mudar sua vida se você
falar um inglês fluente. Sei que só era uma aula, mas só com uma aula você
mudar o caminho da sua vida, ficar muito mais interessado. É uma coisa que,
mesmo sendo pequena, eu posso ajudar pessoas que não têm tantas oportunidades.”
Imagina as oportunidades
Cláudia e Renê Silva notaram
que muitos moradores do Alemão já sabiam um pouquinho da língua e queriam
avançar. "Percebemos juntos que a maior necessidade das pessoas adultas
era de um nível intermediário em vez de iniciante. Geralmente estudamos na
escola ou já fizemos algum outro cursinho, então vimos que era importante ter
uma continuação para avançar no inglês dessa galera", explica Renê.
"A Géssica é um exemplo
dessa situação. Ela já tinha um conhecimento básico do idioma e agora poderá ir
mais longe. Imagine quantas oportunidades profissionais irão surgir para ela e
todos que participam do curso. Não dá nem para medir o quanto de benefícios
essa iniciativa já começou a trazer para o Alemão", conclui.
Serviço
O curso é voltado para
alunos da comunidade. Quem quiser saber mais sobre a iniciativa - para ajudar
ou tentar participar de eventuais classes futuras - deve acessar a página do
'The English Club Alemão' no Facebook.
Fonte : G1
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