O positores
sírios, agentes humanitários e paramédicos alegam que mais de 40 pessoas foram
mortas no dia 7 de abril em um suposto ataque químico em Douma, cidade
controlada por rebeldes na região de Ghouta Oriental, na periferia de Damasco,
a capital da Síria.
Essa foi a alegada motivação
para o ataque coordenado por Estados Unidos, Reino Unido e França contra o
governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, na noite de sexta-feira.
Mas Assad usou ou não usou
armas químicas?
A França diz ter
"provas" de que esse tipo de armamento foi usado - pelo menos o gás
de cloro.
O governo sírio nega a
acusação, e sua principal aliada, a Rússia, diz ter "evidência
irrefutável" de que o incidente foi "fabricado" com a ajuda do
Reino Unido.
Por que Douma foi atacada?
Em fevereiro, forças leais ao
presidente Bashar al-Assad lançaram um ataque em Ghouta Oriental que deixou
mais de 1,7 mil civis mortos.
Em março, militares
dividiram a região em três bolsões - o maior deles ao redor de Douma, onde
moram de 80 mil a 150 mil pessoas.
Temendo serem derrotados,
grupos rebeldes nos outros dois bolsões concordaram em ser evacuados para o
norte do país.
Mas o grupo que controlava
Douma, o Jaysh al-Islam, permaneceu. No dia 6 de abril, depois de negociações
paralisadas com o governo, os ataques aéreos recomeçaram.
O que aconteceu no
dia 7 de abril?
O bombardeio continuou pelo
segundo dia, com dezenas de pessoas mortas ou feridas antes do suposto ataque
com armas químicas.
Ativistas ligados ao
Violations Documentation Center (VDC), que reúne supostos casos de violação à
lei internacional, registraram dois incidentes separados de bombas lançadas
pelas Forças Aéreas da Síria que conteriam substâncias tóxicas.
A primeira ocorreu
aproximadamente às 16h (10h de Brasília) e atingiu uma padaria, disse o VDC.
Segundo a organização, um
agente humanitário da ONG Defesa Civil Síria sentiu o cheio do gás de cloro no
ar depois do ataque, mas não conseguiu determinar de onde veio.
"Posteriormente,
descobrirmos os corpos das pessoas que foram sufocadas com gases tóxicos. Eles
estavam em espaços fechados, buscando abrigo das bombas de barril, o que deve
ter causado uma morte rápida e ninguém ouviu os gritos deles", afirmou
ele.
O VDC disse que o segundo
incidente ocorreu não muito longe dali, ao leste, perto da Praça dos Mártires,
aproximadamente às 19h30 (13h30 de Brasília).
Às 19h45 (13h45 de
Brasília), mais de 500 pessoas - a maioria mulheres e crianças - foram levados
a centros médicos com sintomas que indicavam exposição a um agente químico,
segundo a Defesa Civil Síria e a Sociedade Médica Americana Síria (SAMS), uma
ONG que dá apoio a hospitais em áreas controladas pelos rebeldes.
Os pacientes mostravam
sinais de "desconforto respiratório, cianose central (pele ou lábios
azuis), espuma oral excessiva, queimaduras da córnea e odor semelhante ao
cloro", informou um comunicado conjunto publicado no último domingo.
Uma mulher que morreu teve
convulsões e suas pupilas estavam dilatadas.
Socorristas que atuavam na
busca por feridos dos bombardeios também encontraram corpos de pessoas com
espuma na boca, cianose e queimaduras nas córneas, acrescentou a nota.
A União de Assistência
Médica e Organizações de Socorro (UOSSM, na sigla em inglês), que dá apoio a
hospitais na áreas controladas pelos rebeldes na Síria, também disse que
recebeu relatos dos dois incidentes.
Depois do primeiro ataque,
as pessoas foram tratadas por dificuldades respiratórias e irritação dos olhos
disse a UOSSM.
No segundo, os pacientes
foram trazidos para o hospital com forte cheiro de uma substância semelhante ao
cloro e apresentando sintomas que incluíam cianose, formação de espuma na boca
e irritação da córnea, acrescentou.
Um estudante de medicina que
trabalha em um hospital local disse à BBC que havia atendido um homem que
morreu.
"Suas pupilas estavam
dilatadas e ele tinha espuma na boca. Seu coração batia de forma muito lento.
Ele tossia sangue em sua boca também", disse ele.
Dois vídeos divulgados pelo
grupo de oposição Douma Revolution mostram o que seriam corpos de crianças,
mulheres e homens encontrados em um prédio, supostamente localizado a sudoeste
da Praça dos Mártires. Alguns tinham espuma saindo de suas bocas e narizes.
Quantas pessoas morreram?
A OMS (Organização Mundial
da Saúde) disse que recebeu registros, por meio de parceiros locais, de
"43 mortes relacionadas a sintomas consistentes com a exposição a
substâncias químicas altamente tóxicas".
A Defesa Civil Síria e a
SAMS disseram que equipes de resgate encontraram 42 pessoas mortas em suas
casas. Uma pessoa foi declarada morta ao chegar ao hospital e outras seis
morreram durante o tratamento, acrescentaram.
Em um tuíte anterior,
posteriormente apagado, a Defesa Civil Síria havia estimado o número de mortos
em mais de 150.
A UOSSM informou
inicialmente que 70 mortes haviam sido confirmadas. Na segunda-feira, revisou o
número para pelo menos 42, mas acrescentou que o saldo de mortos poderia subir.
O Observatório Sírio para os
Direitos Humanos, um grupo de monitoramento sediado no Reino Unido, disse que
os ataques aéreos ocorridos nos dias 6 e 7 de abril mataram quase 100 pessoas.
A organização incluiu 21 pessoas que morreram como resultado de sufocamento,
mas ressalvou que foi incapaz de identificar a causa.
O site britânico de
jornalismo investigativo Bellingcat disse que havia contado pelo menos 34
corpos nos dois vídeos divulgados pela Douma Revolution.
Segundo o Bellingcat, o
prédio perto da Praça dos Mártires onde os corpos foram filmados recebeu a
visita de militares russos em 9 de abril.
A que as vítimas poderiam ter sido expostas?
Especialistas dizem que é
impossível saber se uma pessoa foi exposta a um agente químico ao olhar para um
vídeo ou foto.
A única maneira de confirmar
a contaminação é coletar amostras e analisá-las em laboratório. No entanto, a
ONU e outras organizações humanitárias internacionais não conseguiram entrar em
Douma por causa do cerco do governo.
A Organização para a
Proibição de Armas Químicas (OPAQ) disse que uma missão de averiguação tem
"coletado e analisado informações de todas as fontes disponíveis". O
organismo multilateral havia prometido enviar uma equipe para a Síria que
começaria seu trabalho neste sábado.
A Defesa Civil Síria e a
SAMS dizem acreditar que as vítimas morreram sufocadas como resultado da exposição
a produtos químicos tóxicos, provavelmente um organofosforado - um grupo
composto associado a pesticidas e agentes nervosos.
A UOSSM também concluiu que
os sintomas das vítimas eram consistentes com a exposição a um agente nervoso,
possivelmente misturado com cloro.
Raphal Pitti, do escritório
da UOSSM na França, disse acreditar que "o cloro foi usado para esconder o
uso de Sarin", um agente nervoso.
Na última quinta-feira, 12
de abril, o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que as pessoas foram
expostas ao gás de cloro "pelo menos", mas não mencionou qual outro
agente químico poderia estar envolvido no ataque.
Os Estados Unidos disseram
que os sintomas relatados eram "consistentes com um agente de asfixia e
com um agente nervoso de algum tipo".
Dois funcionários não
identificados dos EUA também disseram à rede de TV americana NBC News em 12 de
abril que testes de sangue e amostras de urina indicaram a presença de cloro e
um agente nervoso.
O que diz o governo sírio?
O governo sírio, que negou
repetidamente ter usado armas químicas, acusou os rebeldes de
"fabricar" os relatos.
O representante permanente
da Síria na ONU, Bashar al-Jaafari, acusou as potências ocidentais de acusar
falsamente o governo de modo a "preparar o terreno para uma agressão
contra o meu país, assim como os Estados Unidos e o Reino Unido fizeram no
Iraque em 2003".
O ministro das Relações
Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse em 13 de abril que tem "provas
irrefutáveis de que este foi mais um ataque, encenado com a participação de
serviços especiais de um Estado que está se esforçando para estar à frente da
campanha russófoba".
Lavrov evitou dizer a qual
país se referia, mas o porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia,
major-general Igor Konashenkov, disse mais tarde que o Reino Unido estava
"diretamente envolvido na provocação".
Ele não forneceu nenhuma
prova e um diplomata britânico chamou a acusação de "bizarra" e uma
"mentira descarada".
O representante permanente
da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, disse ao Conselho de Segurança (CS) em 9 de
abril que militares russos haviam visitado Douma e coletado amostras de solo
que não mostravam presença de agentes nervosos ou substâncias contendo gás de
cloro.
"No hospital local,
ninguém foi hospitalizado com sintomas de gás sarin ou envenenamento por gás de
cloro", acrescentou.
"Nenhum corpo de
pessoas que morreram envenenadas foram encontradas, e a equipe médica e os
moradores não tinham informações sobre onde poderiam ter sido enterrados".
Ele também observou que um
ativista da oposição havia postado um vídeo supostamente mostrando uma bomba
química feita de uma lata de gás amarelo encontrada em um quarto em um prédio
em Douma.
Nebenzia alegou que o vídeo
foi encenado, acrescentando: "A trajetória da suposta bomba é totalmente
antinatural. Ela caiu do teto e aterrissou calmamente em uma cama de madeira
sem danificá-la de qualquer forma. Foi claramente colocada ali".
Como a
comunidade internacional reagiu?
O secretário-Geral das
Nações Unidas, António Guterres, afirmou estar indignado com os relatos em
Douma e advertiu que "qualquer uso confirmado de armas químicas, por
qualquer parte no conflito e sob quaisquer circunstâncias, é abominável e uma
clara violação do direito internacional".
Em 9 de abril, o presidente
dos EUA, Donald Trump, declarou que houve um "ataque hediondo contra
inocentes sírios com armas químicas proibidas".
Dois dias depois, ele
afirmou, em sua conta no Twitter, que o presidente Assad era "um animal
assassino de gás". Na ocasião, também alertou que mísseis americanos
"estavam a caminho", depois que a Rússia anunciou que derrubaria
qualquer um dos disparos contra a Síria.
Macron prometeu que a França
"removerá a capacidade química do regime", mas não "permitirá
uma escalada, ou qualquer coisa que possa prejudicar a estabilidade da
região".
Já a primeira-ministra do
Reino Unido, Theresa May, disse em 12 de abril que o incidente em Douma foi
"um ato chocante e bárbaro" e que era "altamente provável"
que o governo sírio fosse responsável.
Ela declarou ser "vital
que o uso de armas químicas não passasse em branco".
Quando as armas
químicas foram usadas?
Em agosto de 2013, foguetes
contendo gás sarin foram disparados contra vários subúrbios controlados pela
oposição no leste e oeste de Ghouta, matando centenas de pessoas.
Especialistas da ONU
confirmaram que o agente químico foi usado no ataque, mas não foram instruídos
a buscar culpados.
As potências ocidentais
disseram que apenas forças do governo sírio poderiam ter realizado o ataque.
O presidente Assad negou a
acusação, mas concordou em assinar a Convenção sobre Armas Químicas e destruir
o arsenal químico declarado da Síria.
Especialistas de uma missão
conjunta da ONU-OPAQ também disseram ter certeza de que as forças do governo
usaram sarin em um ataque em abril de 2017 contra Khan Sheikhoun, que teria
matado mais de 80 pessoas.
O presidente Assad disse que
a acusação foi fabricada, mas, em retaliação, os EUA realizaram um ataque com
mísseis de cruzeiro contra uma base aérea síria.
A missão da ONU-OPAQ também
descobriu que as forças do governo usaram o gás de cloro como arma em pelo
menos três ocasiões durante a guerra civil.
Fonte : G1
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