Uma
enxurrada de mensagens inundou as redes sociais após a morte da vereadora do
Rio Marielle Franco (PSOL). Uma delas diz que a política engravidou aos 16 anos,
foi casada com Marcinho VP e foi eleita pelo Comando Vermelho. Outra atribui a
ela um vídeo de um discurso de defesa de traficantes mortos por policiais no
complexo do Salgueiro. Elas não são verdadeiras.
Marielle foi morta a tiros
dentro de um carro na Rua Joaquim Palhares, no Estácio, por volta das 21h30 de
quarta (14). O motorista Anderson Gomes também foi baleado e morreu. Uma outra
passageira, assessora de Marielle, foi atingida por estilhaços. A principal
linha de investigação da Delegacia de Homicídios é execução.
Veja o que dizem as
mensagens e as checagens:
MENSAGEM: "Engravidou
aos 16 anos, ex-esposa do Marcinho VP, usuária de maconha, defensora de facção
rival e eleita pelo Comando Vermelho, exonerou recentemente 6 funcionários, mas
quem a matou foi a PM."
A mensagem foi bastante
compartilhada e ganhou ainda mais força quando foi tuítada pelo deputado
federal Alberto Fraga (DEM), que a apagou depois da repercussão. Em entrevista
ao Fantástico, ele admitiu que errou e que passou a informação à frente sem
checá-la.
A desembargadora Marília
Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, também publicou no
Facebook um comentário em que dizia que Marielle "estava engajada com
bandidos e foi eleita pelo Comando Vermelho".
Uma foto com uma mulher no
colo de um homem também tem sido espalhada na web. Internautas dizem ser a
prova de que Marielle esteve junto com Marcinho VP.
NÃO É VERDADE: Marielle não
engravidou aos 16 anos. Ela teve a única filha, Luyara Santos, aos 19. O pai da
Luyara é Glauco dos Santos.
Ela jamais foi casada com
Marcinho VP. Dois traficantes ficaram conhecidos pela alcunha: um deles, que
foi retratado no livro "Abusado", do jornalista Caco Barcellos,
morreu em 2003 e não teve nenhum relacionamento com a vereadora. O outro,
Márcio dos Santos Nepomuceno, está preso desde 1997. Ou seja, antes de ele ser
capturado, Marielle tinha apenas 17 anos e também não foi casada com o
traficante da Zona Norte. A vereadora era lésbica e vivia com sua companheira,
a arquiteta Mônica Benício. Uma de suas principais frentes de atuação era pelas
pautas do movimento LGBT.
Não faz sentido também a
afirmação de que Marielle foi eleita pelo Comando Vermelho. Ela recebeu 40% dos
votos na Zona Sul e na Barra da Tijuca. Muitos de seus votos, no Leblon e em
Copacabana, foram obtidos no rastro de seu padrinho político, o deputado
estadual Marcelo Freixo (PSOL). Os locais em que ela recebeu a maior votação
foram Laranjeiras (2.237) e Jardim Botânico (1.926). Ela foi a quinta mais
votada da cidade.
As exonerações alardeadas no
texto não ocorreram.
A foto espalhada também não
é verdadeira. Ela foi retirada de um fotolog. Na verdadeira, sem as tarjas, é
possível perceber que a mulher não é Marielle. O homem na imagem também não se
parece nada com nenhum dos dois traficantes apelidados de Marcinho VP.
O PSOL diz que vai entrar
com uma representação contra a desembargadora no Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) e vai denunciar o deputado ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
O partido já recebeu 15 mil denúncias de fake news envolvendo o nome da
vereadora.
MENSAGEM: "Gisele
Palhares Gouveia, 34 anos, cuja profissão era salvar vidas atuando como médica,
foi assassinada ontem na Linha Vermelha (RJ) com 2 tiros na cabeça após uma
tentativa frustrada de assalto. Gisele, embora mulher, não era negra, não era
pobre, não era feminista, não era militante de partidos políticos, não
frequentava os círculos LGBT, não era do MST, CUT ou PSOL, não estava dentro
dos programas de assistência e cotas do governo. Enfim, não preenchia os
requisitos necessários para uma mobilização nacional, tampouco que merecesse a
menor atenção dos Direitos Humanos. Ela, assim como eu e voce, não era
ninguém!!! Os bandidos??? Ah! Esses passam bem, obrigado! :/"
A mensagem se espalhou,
especialmente pelo WhatsApp, questionando a repercussão da morte de Marielle em
detrimento de outras. E cita o exemplo da morte de uma médica, como se ela
tivesse sido ignorada por todos.
NÃO É VERDADE: A médica não
foi morta no mesmo dia de Marielle, como a mensagem dá a entender. Gisele foi
assassinada em junho de 2016.
Na época, sua morte teve
ampla repercussão. O viúvo pediu que a morte dela não ficasse impune.
Além da data oculta, a
mensagem, um print do Facebook, é falsa. Ela não é do perfil oficial do pastor
Cláudio Duarte.
MENSAGEM: "Vereadora
assassinada protestava contra a morte de sete marginais mas ignorava as
centenas de mortes de policiais e crianças inocentes causadas pelos “soldados”
do tráfico, “vítimas da sociedade”. Além disso ainda fez apologia de drogas e
citou a “poesia” de uma “MC”, que fazia sucesso com funks homofóbicos. Mas isso
ela ignorou. Vejam o vídeo e vomitem também. 👇🤮"
A mensagem, que acompanha um
vídeo, foi bastante compartilhada. O discurso é atribuído à vereadora morta.
NÃO É VERDADE: O discurso
foi feito por uma colega de partido de Marielle, Talíria Petrone (PSOL). E foi
em Niterói, não na capital.
Diferentemente do que afirma
a mensagem, Marielle também atuava em favor de famílias de policiais mortos.
"A Marielle foi imbatível, foi muito importante no caso do meu
filho", recorda a mãe de um oficial morto.
‘É ou não é?’, seção de
fact-checking (checagem de fatos) do G1, tem como objetivo conferir os
discursos de políticos e outras personalidades públicas e atestar a veracidade
de notícias e informações espalhadas pelas redes sociais e pela web. Sugestões
podem ser enviadas pelo VC no G1, pelo Fale Conosco ou pelo Whatsapp/Viber, no
telefone (11) 94200-4444, com a hashtag #eounaoe.
Fonte : G1
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