Em seis dias de protesto,
morreram pelo menos 18 civis e um policial em protestos na Colômbia. A
Organização das Nações Unidas (ONU) condenou, nesta terça-feira (4), o
"uso excessivo da força" no país e um ministro renunciou. Nas redes
sociais há vídeos e imagens de ações violentas da polícia colombiana.
A crise de violência começou
em 28 de abril, quando houve um primeiro protesto contra uma reforma tributária
do governo.
O plano tinha sido apresentado
pelo governo ao Congresso no dia 15 de abril, como uma medida para financiar os
gastos públicos.
O projeto recebeu críticas da oposição política e também de aliados do presidente Iván Duque. O descontentamento logo se espalhou entre a população.
Seis dias de protestos
Os atos de rua começaram no
meio da semana passada. Os manifestantes diziam que a reforma tributária iria
punir a classe média com medidas como o aumento do imposto por valor agregado
que incide em bens e serviços.
Sindicatos, estudantes,
indígenas, oposição e outras organizações da sociedade civil tomaram as ruas
das principais cidades do país —foi na cidade de Cali onde houve mais casos de
denúncias de abuso. Também houve protestos em Bogota e Medellin.
O governo ordenou o envio de
militares para algumas das cidades.
Morreram 18 civis e um
policial desde o início dos protestos contra a reforma tributária, em 28 de
abril, segundo balanço da Defensoria do Povo.
Não há consenso sobre o número
de mortes causados pela violência nos protestos. A procuradoria do país disse
que investiga 14 mortes violentas. Um grupo local de direitos humanos afirmou
que são mais de 20 mortes.
O Ministério da Defesa
divulgou que houve 846 feridos, entre eles 306 civis. Nos seis dias de
protestos, a polícia prendeu 431 pessoas.
Governo atribui violência à
oposição
O ministro da Defesa, Diego
Molano, atribuiu a violência unicamente aos participantes das manifestações.
Segundo ele, esses atos foram premeditados, organizados e financiados por
grupos dissidentes das Farc que se afastaram do acordo de paz assinado em 2016.
Pressionado, Duque ordenou no
domingo (2) a retirada da proposta de reforma tributária que era debatida com
ceticismo no Congresso. Um amplo setor rejeitava o projeto que visava
especialmente a classe média.
O presidente propôs a
elaboração de um novo projeto que descarta os principais pontos de discórdia: o
aumento dos impostos sobre serviços e mercadorias e a ampliação da base de
contribuintes com imposto de renda.
Ministro renuncia
No domingo (2) o presidente
Iván Duque anunciou a retirada a proposta de reforma tributária.
O ministro colombiano da
Fazenda, Alberto Carrasquilla, renunciou na segunda-feira (3).
"Minha continuidade no
governo dificultaria a construção rápida e eficiente dos consensos
necessários", informou Carrasquilla em um comunicado. Ele será substituído
pelo economista José Manuel Restrepo, atual ministro do Comércio, anunciou o
presidente Duque.
ONU pede calma
Em Genebra, a porta-voz do
Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos,
Marta Hurtado, declarou que o órgão está "alarmado com os acontecimentos
ocorridos na cidade de Cali, na Colômbia, na noite passada, quando a polícia
abriu fogo contra os manifestantes que protestavam contra a reforma tributária,
matando e ferindo várias pessoas, segundo as informações recebidas".
Hurtado também pediu calma em
um novo dia de protestos, previsto para quarta-feira.
"Nosso escritório na
Colômbia está trabalhando para verificar o número exato de vítimas e
estabelecer as circunstâncias desses terríveis incidentes em Cali", disse
Hurtado.
A porta-voz acrescentou que "os defensores dos direitos humanos também relataram que foram perseguidos e ameaçados".
"Dada a situação
extremamente tensa, com soldados e policiais destacados para vigiar o protesto,
fazemos um apelo à calma", insistiu Hurtado.
"Lembramos às autoridades
do Estado sua responsabilidade de proteger os direitos humanos, inclusive o
direito à vida e à segurança pessoal, e de facilitar o exercício do direito à
liberdade de reunião pacífica", acrescentou a porta-voz.
"Ressaltamos também que
os agentes encarregados de se fazer cumprir a lei devem respeitar os princípios
da legalidade, precaução, necessidade e proporcionalidade, ao monitorar as
manifestações", frisou.
Hurtado concluiu que "as
armas de fogo podem ser usadas apenas como último recurso diante de uma ameaça
iminente de morte, ou de lesões graves".
Do G1
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