Pacientes graves internados
com Covid-19 estão respirando por meio de "gambiarras de oxigênio"
nos equipamentos da rede pública do Distrito Federal, segundo relatos de
profissionais de saúde. Imagens registradas por servidores mostram a tentativa
dos trabalhadores da linha de frente de salvar os doentes por meio do
improviso.
Em nota, a Secretaria de Saúde
(SES-DF) reconhece que "a demanda de pacientes é muito alta para os pontos
fixos de oxigênio", por isso, "é necessária a utilização de cilindros
de oxigênio portáteis para suportar o volume de atendimento nesse momento"
(entenda abaixo).
No entanto, quem trabalha
dentro dos hospitais afirma que a quantidade de cilindros móveis também não é
suficiente. O G1 questionou a SES-DF sobre o quantitativo em estoque, mas não
obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
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Um enfermeiro do Hospital
Regional de Planaltina, que prefere não se identificar, fez um desabafo sobre o
plantão no último sábado (14). "Chegou um momento em que estávamos em duas
paradas cardíacas ao mesmo tempo, o único cilindro de oxigênio do Samu [Serviço
Móvel de Urgência] acabou, e o paciente precisando ser ventilado sem
oxigênio".
Na manhã desta segunda-feira (15), a taxa de ocupação em leitos adultos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) chegou a 100%. Enquanto isso, 220 pessoas aguardavam por leitos em hospitais.
Segundo o enfermeiro, foi
necessário dividir o mesmo ponto de oxigênio entre as duas pessoas.
"Retirei o oxigênio de uma paciente e coloquei no [outro] paciente. Quando
olhei pra trás, a outra senhora no qual eu tinha removido o oxigênio começou a
ficar cianótica [sem ar]. Voltei o oxigênio pra senhorinha", relata.
"Durante os momentos de
desespero das reanimações vi equipe médica e de enfermagem com lágrimas nos
olhos e muito medo", afirmou o profissional.
Para viabilizar o oxigênio dos
pacientes, a equipe precisou puxar ligações de setores diferentes. Uma imagem
registrada mostra um ponto que chega até uma ala pela janela (na foto acima).
Improviso também no Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Outro funcionário, que prefere não se identificar, denunciou a situação. "Pacientes estão usando O2 tudo em gambiarra. Não temos nenhum tipo de suporte pra trabalhar", diz ele.
Na fila
Enquanto uns dividem pontos de
oxigênio, outros pacientes esperam por leito em Unidade de Terapia Intensiva
(UTI), com dificuldades para respirar. Na noite deste domingo (14), havia 293
pessoas na fila da UTI, 239 delas com diagnóstico da Covid-19.
Enquanto isso, das 300 vagas
para leito adulto, apenas duas estavam disponíveis às 21h. As vagas duram pouco
tempo. Na manhã desta segunda-feira (15), a ocupação chegou a 100%.
Um dos pacientes na fila é Fábio Gomes Batista, de 38 anos, que trabalha como brigadista. Ele está internado no Hospital Regional de Ceilândia (HRC).
Segundo os médicos, os pulmões
do Fábio estão afetados em mais de 50%. A família está angustiada. "Medo
constante de perder meu marido", diz Janayna Gomes, esposa de Fábio.
"Só estando lá pra ver o
sofrimento que é para as pessoas viver. Estar com esse vírus e não ter suporte
nenhum", disse.
Estoque de oxigênio
Segundo a Secretaria de Saúde,
o oxigênio é fornecido para os hospitais e canalizado até o leito de UTI ou de
enfermaria. Duas empresas prestam o serviço: White Martins Gases Industriais
Ltda (Oxigênio Líquido- Tanque Criogênico) e Air Liquide Brasil Ltda ( Oxigênio
Cilindros).
A pasta afirma que o volume
médio mensal de oxigênio contratado é de 300.000 metros cúbicos (m³) para o
líquido e de 340 m³ para o gasoso. "O consumo de oxigênio nas unidades
hospitalares é monitorado permanentemente pela empresa contratada, por meio de
sistema próprio", disse.
De acordo com a secretaria,
"houve aumento no consumo do produto porque houve ampliação do número de
leitos", mas não detalhou o quanto aumentou.
Apesar de dizer que "a
quantidade de oxigênio contratado é suficiente", a secretaria de saúde
afirma que "para evitar qualquer desabastecimento da rede de saúde e dar
maior segurança ao atendimento, foi solicitado um aditivo contratual no
percentual máximo permitido por lei".
Ainda de acordo com a pasta,
"as enfermarias possuem uma limitação física de espaço, que comporta um
número limitado de leitos e, consequentemente, um número limitado de pontos
fixos de oxigênio", sendo "necessária a utilização de cilindros de
oxigênio portáteis para suportar o volume de atendimento nesse momento".
No entanto, a pasta não
informou a quantidade de cilindros e previsão de aquisição.
Do G1
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