De um
lado, os pacientes se queixam da falta de acesso a clínicas e de assistência
adequada para o tratamento da doença renal crônica. De outro, nefrologistas de
unidades conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), em Pernambuco, alegam que
estão sem receber verbas da Secretaria Estadual de Saúde (SES), o que tem
impactado no atendimento de pessoas que dependem de uma máquina para limpar e
filtrar o sangue (trabalho que o rim doente não pode fazer). O Estado assegura
que tem trabalhado com o objetivo de ampliar o número de vagas para a terapia
renal substitutiva (termo que abrange tratamentos para a insuficiência renal),
mas não dá prazos.
Enquanto isso, segundo
informações extraoficiais, pelo menos 200 pacientes, em Pernambuco, ocupam
desnecessariamente leitos hospitalares na rede pública porque não conseguem uma
vaga em clínica conveniada ao SUS para se submeter à hemodiálise. São pessoas
que permanecem internadas em hospital, mesmo com alta para ir para casa e
continuar o tratamento de forma ambulatorial. Nessa modalidade, as sessões de
diálise são realizadas em clínicas, três vezes por semana, e cada uma tem
duração média de quatro horas. Também é uma forma mais econômica (custa, em
média, R$ 200 cada sessão) do que a permanência no hospital, onde o valor
alcança R$ 980 aproximadamente.
“É um desgaste para os
pacientes, que têm a sensação de que estão presos nos leitos. Não conseguem ir
para casa porque não há vagas nas clínicas”, destaca o presidente da Sociedade
Brasileira de Nefrologia/Regional Pernambuco, Marcelo Nonato, acrescentando que
“é uma situação difícil porque eles deixam de ter vida e rotina no hospital,
ficam deprimidos. E se fossem para os locais onde moram, fariam a sessão de
hemodiálise nos dias específicos e, nos demais, fariam outras atividades”.
É o caso do irmão da dona de
casa Edilma Maria da Silva, 32 anos, que está internado há sete meses no
Hospital Getúlio Vargas, no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife, apenas
para fazer sessões de hemodiálise.
“Não tem necessidade de o meu
irmão ficar aqui. Mas, segundo o Estado, não há vagas nas clínicas. Também não
recebemos uma previsão de quando ele poderia sair do hospital. Da última vez
que eu liguei, disseram que ele era o terceiro da fila no Getúlio Vargas, mas
há pacientes de outros hospitais também nessa lista. Não tem como termos ideia.
Vamos ao Ministério Público para tentar resolver a situação”, relata Edilma.
TERAPIA RENAL SUBSTITUTIVA
O secretário de Saúde do
Estado, André Longo, diz estar preocupado com a situação e tenta ampliar o
número de vagas para a terapia renal substitutiva. “Há uma retenção de
pacientes, maior do que a que gostaríamos, devido à falta de vagas. Mas abrimos
processo de ampliação e precisamos que haja conformidade documental. Existem
aspectos burocráticos que precisam ser vencidos. Esta semana tivemos a notícia
de um incremento de mais dez máquinas (para hemodiálise). Estamos em atuação
para solucionar o problema”, diz.
De acordo com a SES, 5,7 mil
pessoas estão cadastradas para diálise, em Pernambuco, nas clínicas
conveniadas. Ainda segundo a secretaria, para ampliar a oferta do serviço, foi
encaminhada proposta ao Ministério da Saúde para habilitar nova empresa, o que
pode possibilitar aumento de mais de mais 120 vagas. “Para o Estado, não é
interessante que esses pacientes permaneçam no hospital, pois retêm vagas. E do
ponto de vista econômico, a terapia renal substitutiva ambulatorial (nas
clínicas) acaba tendo custo menor do que a feita no hospital.”
A médica nefrologista Suzana
Melo, proprietária de clínica conveniada ao SUS, destaca que os serviços de
hemodiálise estão falidos. “É uma situação caótica. Há atrasos frequentes no
repasse de, no mínimo, dois meses da alta complexidade (a própria diálise) e de
até sete meses da média complexidade. Como podemos oferecer serviços aos
pacientes renais?”, questiona. Ela complementa que, apesar de o Ministério da
Saúde ter depositado repasses para a SES no dia 22 de novembro, a clínica ainda
não recebeu o pagamento de outubro. “Clamamos pela sensibilidade dos gestores e
dos órgãos de controle, a fim de evitar prejuízo a funcionários e à qualidade
da assistência a quase cinco mil pacientes.”
O secretário assegura que
não há atrasos no repasse. “O que existe é que algumas clínicas têm
dificuldades documentais. Tão logo haja a regularidade, será feito o
pagamento.”
Fonte : Jc
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