Três
pessoas morreram e um bebê de um ano e nove meses foi baleado em uma operação
da Polícia Militar, na noite de terça-feira (13), na comunidade do Quarenta e
Oito, em Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Entre os mortos está a mãe
do bebê, Margareth Teixeira, de 17 anos. Segundo a PM, os outros dois mortos
são suspeitos que estavam com fuzis e efetuaram disparos contra os policiais.
De acordo com os policiais,
depois que o tiroteio acabou, duas pessoas foram encontradas baleadas e
encaminhadas para o Hospital Albert Schweitzer. A criança, atingida por um tiro
de raspão no pé, está internada. Ainda não se sabe de onde os disparos
partiram.
Além dos fuzis, a PM
informou que encontrou com os suspeitos duas pistolas, uma granada, munição e
radiotransmissores.
Margareth Teixeira, de 17 anos.
SEIS INOCENTES MORTOS EM
CINCO DIAS
A jovem mãe é a sexta vítima
da violência na cidade desde a última sexta-feira (9).
Das 7h de sexta às 19h30 de
terça-feira (13), foram atingidos por balas perdidas ou mortos:
Gabriel Pereira Alves, 18
anos;
Lucas Monteiro dos Santos
Costa, 21 anos;
Tiago Freitas, 21 anos;
Dyogo Costa Xavier de Brito,
16 anos;
Henrico de Jesus Viegas de
Menezes Júnior, 19 anos;
Margareth Teixeira, de 17
anos.
A PM chegou a afirmar que
três deles eram suspeitos. As famílias de todos negam.
Relembre, a seguir, os
outros cinco casos recentes.
Famílias se despedem de dois
jovens mortos por bala perdida em operações policiais no Rio
AVÔ TENTOU SOCORRER O NETO
Dyogo Coutinho, de 16 anos,
morreu durante operação da PM em Niterói.
Dyogo Costa Xavier de Brito
era jogador não federado da base do América. Estava a caminho do treino, no
início da tarde de segunda-feira (12), quando foi atingido.
O Batalhão de Choque tinha
feito uma operação nas comunidades do Viradouro, Grota e Igrejinha, em Niterói,
no início da manhã, quando houve confronto. O estudante foi morto, segundo o
avô, após a operação policial. O rapaz chegou morto ao hospital.
O avô do jogador socorreu o
neto. Cristóvão é motorista de ônibus e passava na hora em que o neto estava no
chão, agonizando. Ao tomar conhecimento de tiros disparados na rua, desceu do
ônibus, pois Cristóvão sabia que o neto estaria por ali naquele horário.
"Eu peguei ele no
hospital quando ele nasceu e agora peguei ele no colo quando ele morreu”, disse
Cristóvão, na segunda (12).
Cristóvão Xavier de Brito
ainda com a roupa manchada de sangue do neto
Naquele momento, segundo o
avô, um PM lhe afirmou que o neto era um traficante e que havia encontrado
entorpecentes com o rapaz.
“A ‘droga’ que ele tinha na
mochila era a chuteira e um par de sandália de dedo. Mais R$ 85, que ele ia
treinar no Rio, no América. Sumiu tudo”, afirmou o avô.
A MORTE NUM PONTO DE ÔNIBUS
O estudante Gabriel Pereira
Alves tinha 18 anos e levou um tiro a caminho da escola na Tijuca, Zona Norte
do Rio
Gabriel Pereira Alves
acordou cedo na última sexta-feira (9). Tinha um dia longo pela frente: ia para
a escola, faria um curso e, no fim da tarde, pretendia cortar o cabelo. Para
tal, mandou uma mensagem para o irmão mais velho – Gabriel era o “do meio” –,
perguntando se tinha horário.
Eram 7h quando Gabriel
chegou ao ponto de ônibus da Rua Conde de Bonfim, uma das vias mais movimentas
da Tijuca, Zona Norte do Rio, em frente a um hipermercado desativado, de frente
para o Morro do Borel. Irrompeu um tiroteio enquanto o estudante aguardava a
condução. Uma bala o atingiu no peito.
Gabriel foi levado para o
Hospital São Francisco, a poucos metros dali, mas o ferimento era grave. O
irmão cabeleireiro foi correndo para lá. Ao chegar, viu rostos em lágrimas: o
jovem não tinha resistido.
Parentes afirmam que PMs e
traficantes se enfrentavam na hora em que Gabriel foi ferido. A PM nega – a
base da UPP do Borel foi atacada, mas não houve revide.
“Ele foi só mais um na
estatística. Se eu for puxar pela estatística, pelos acontecimentos anteriores,
eu não espero nada”, afirmou o pai do rapaz, Fabrício Alves.
EXECUÇÃO
INTERROMPE FESTA
Lucas Monteiro dos Santos
Costa, 21 anos, morto em festa no Encantado
A noite da sexta (9) era de
festa para o soldado e paraquedista Lucas Monteiro dos Santos Costa. Coube ao
rapaz de 21 anos organizar uma noitada entre amigos. Lucas alugou uma casa no
Encantado, Zona Norte do Rio, e até vendera ingressos.
Pelo menos 50 pessoas
participavam da festa quando os tiros começaram. Testemunhas contaram que
homens que estavam atrás de um suposto ladrão entraram na casa já atirando.
Tiago Freitas, 21 anos,
morto em festa no Encantado
O homem procurado pelo bando
foi ferido e hospitalizado. Mas Lucas e um amigo – Tiago Freitas, de 21 anos –
também foram baleados. Os rapazes morreram na hora.
O pai de Lucas acredita que
o filho foi morto por ser militar.
“Ele não morreu por bala
perdida, ele foi morto por ser militar. Ele pulou um muro de três metros, foi
perseguido e executado”, afirmou Adriano dos Santos Costa.
Tiago também tentou fugir,
mas foi baleado na cabeça.
Ele trabalhava num
restaurante e, à noite, estudava. Queria concluir o ensino médio. Tiago tinha
sido menino de rua, mas ganhou uma nova chance na vida há 10 anos. Foi acolhido
pela família com quem vivia até a última sexta-feira.
FOI BUSCAR A MOTO E MORREU
Henrico de Jesus Viegas de
Menezes Júnior, de 19 anos, deixara a moto para consertar e iria buscá-la nesta
segunda-feira (12). A oficina ficava na Comunidade Terra Nova. Ao chegar à
localidade, começou um tiroteio. Henrico foi atingido na cabeça.
“Os moradores me falaram que
tinham levado já ele. Mataram e já levaram”, afirma a viúva, que não quis se
identificar.
Henrico de Jesus Viegas de
Menezes Júnior, morto em Magé
Moradores recolheram as
cápsulas de fuzil que ficaram na rua. A PM disse que equipes do batalhão de
Magé faziam patrulhamento na comunidade quando criminosos atiraram contra os
policiais. Houve confronto, e um suspeito foi baleado.
A polícia diz que apreendeu
com ele um revólver, drogas, um radiocomunicador, uma mochila com drogas e um
caderno com anotações do tráfico.
“Não se envolvia com nada.
Era de casa pro serviço, do serviço pra casa. Isso foi uma covardia que fizeram
com ele. Esses policiais chegam atirando, não querem saber quem é trabalhador,
quem não é”, afirmou a viúva.
Fonte : G1
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