A
Polícia Federal (PF) se pronunciou oficialmente nesta terça-feira (30), por
meio de nota, sobre a investigação da morte do líder indígena Emyra Waiãpi e a
possível invasão de garimpeiros em terras indígenas Waiãpi, no Oeste do Amapá.
A situação de tensão, que já estaria acontecendo desde o início da semana
passada, foi denunciada pelos índios no sábado (27).
NÃO HÁ SINAIS DE INVASÃO EM
ALDEIA INDÍGENA NO AMAPÁ, DIZ PF
Como o Exército, a Fundação
Nacional do Índio (Funai) e o Ministério Público Federal (MPF) já haviam
informado na segunda-feira (29), a PF declarou que não encontrou indícios de
invasão.
VEJA PERGUNTAS E RESPOSTAS
SOBRE A SITUAÇÃO
Um inquérito policial foi
instaurado pelo órgão, que confirma, segundo a nota, que “as investigações
continuam em andamento com o objetivo de apurar todas as circunstâncias da
morte do líder Emyra Waiãpi e da suposta invasão da reserva indígena”.
Um delegado, agentes e
peritos criminais da PF foram até a área no domingo (28), com apoio da
Companhia de Operações Especiais (COE), do Batalhão de Operações Policiais
Especiais (Bope), da Polícia Militar (PM) do Amapá.
De acordo com a nota, a
polícia foi guiada na região pelo próprio filho do cacique, o índio Aikyry. Ele
foi um dos indígenas que afirmaram que o líder morreu em confronto com os
invasores.
As diligências, detalha a
PF, ocorreram na aldeia Mariry, onde “não foram encontrados invasores ou
vestígios da presença de não-índios nos locais apontados pelos denunciantes”.
Foi nessa aldeia que os índios se concentraram ao se sentirem ameaçados na
última semana.
Segundo o MPF, foram até a
área 26 agentes da PF e da PM. Ainda de acordo com o órgão ministerial, a PF
deve concluir até sexta-feira (2) o relatório da visita realizada no domingo.
A nota lembra que, “segundo
relatos, cerca de 50 homens fortemente armados teriam invadido as terras
indígenas, no oeste do estado, e assassinado um líder comunitário da aldeia”.
A PF ressaltou que os
policiais envolvidos na ação “percorreram uma grande área” junto à equipe do
COE, “referência no estado em rastreamento e combate em áreas de mata, e nada
foi encontrado”.
ENTREVISTA COLETIVA
O MPF declarou que, apesar
de não haver indícios de invasão na aldeia Waiãpi, a conclusão parcial das
investigações da PF não descarta nenhuma linha de investigação, porque as
circunstâncias ainda não foram esclarecidas.
Não foram descartadas outras
diligências, detalhou o MPF, a exemplo de envio de helicóptero e outras
analises necessárias. O MPF adiantou que vai ser aberto um processo criminal
para apurar a morte do indígena.
Na segunda-feira, o Conselho
das Aldeias Wajãpi - Apina divulgou nota relatando que os indígenas continuam
preocupados com a situação.
"Nas aldeias desta
região as famílias estão com muito medo de sair para as roças ou para caçar.
Algumas comunidades saíram de suas aldeias para se juntar com famílias de
outras aldeias para se sentirem mais seguras. Por isso nossos guerreiros de
todas as regiões da TIW estão se organizando para ajudar os guerreiros da
região do Mariry, que continuam procurando os invasores, e pedimos apoio da
Funai para isso", diz a nota.
Sobre a saída dos indígenas
das suas terras, o Ministério Público não soube informar. Disse que nas regiões
onde os representantes levaram os policiais não havia vestígios de desocupação,
de que os habitantes teriam saído às pressas.
INVESTIGAÇÃO
A Funai e a PM do Amapá
confirmaram que um cacique foi morto na região na última semana. As duas
situações, denúncia de invasão e morte, são investigadas com cautela pelo MPF,
pela Funai e pela PF.
Segundo o Exército, a PF
investigou os possíveis rastros de garimpeiros, com uso de peritos florestais,
drones e outros equipamentos. Tropas do Exército não chegaram a ser enviadas
para a terra indígena.
Matheus Leitão, do blog de
política do G1, citou que, segundo a antropóloga Dominique Tilkin Gallois,
professora da Universidade de São Paulo (USP) e com trabalhos há mais de 30
anos sobre a região, as invasões ocorrem desde 1971, antes mesmo da instalação
de um posto da Funai na região.
Na segunda-feira, o
presidente da República, Jair Bolsonaro, disse que não há 'indício forte' de
que o índio morto tenha sido assassinado. Ele comentou ainda que tem a
"intenção" de regulamentar o garimpo no país, plano que inclui a
liberação da atividade em terras indígenas.
Também na segunda-feira, a
alta comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos,
Michelle Bachelet, condenou a morte de Emyra Waiãpi. Ela ainda pediu a
Bolsonaro que reconsidere sua proposta de abrir mais áreas da Amazônia para
mineração, de acordo com a Reuters.
MORTE
Primeiras investigações não
apontam invasão de terra no Amapá
A vítima foi identificada
como Emyra Waiãpi. Ele tinha 62 anos, era um dos líderes do povo Waiãpi e o
corpo tinha marcas de perfurações e cortes na região pélvica, segundo a PM.
A morte do líder indígena
ocorreu em 23 de julho, mas as autoridades de segurança foram alertadas apenas
no sábado.
Segundo nota do Conselho das
Aldeias Waiãpi - Apina, “a morte não foi testemunhada por nenhum Waiãpi e só
foi descoberta na manhã seguinte [23 de julho]”.
A entidade citou que foram
encontrados rastros no entorno da aldeia que indicam que a morte do líder
indígena foi causada por “não-indígenas”. O conselho relata que houve a invasão
de homens que se instalaram em uma das casas da aldeia Mariry.
RELATOS DE CONFLITO
Os relatos de conflitos
começaram no último sábado e documentos de servidores da Funai afirmam que
cerca de 15 invasores passaram uma noite na aldeia Yvytotõ de forma
"impositiva" e "de posse de armas de fogo de grosso
calibre".
Por meio de nota, a Funai
falou sobre a denúncia de morte do indígena Emyra Waiãpi, no dia 23 na Aldeia
Mariry, e disse que precisa de mais informações sobre o caso.
Fonte : G1
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