Ricardo
Boechat, que morreu nesta segunda-feira (11) aos 66 anos após a queda de um
helicóptero em São Paulo, ganhou três vezes o Prêmio Esso, um dos mais
prestigiosos do jornalismo brasileiro, e atuou em alguns dos principais
veículos e canais do país. Nos últimos anos, foi âncora da BandNews FM e no
Jornal da Band. Também era colunista da revista "Istoé".
Ao longo de uma carreira
iniciada na década de 1970, escreveu em jornais como "Diário de
Notícias", onde começou, "O Globo", "Jornal do
Brasil", "O Estado de S. Paulo" e "O Dia".
Na década de 1990, teve uma
coluna diária no "Bom Dia Brasil", na TV Globo, e também trabalhou no
"Jornal da Globo". Foi ainda diretor de jornalismo da Band e teve
passagem pelo SBT.
Boechat era o recordista de
vitórias no Prêmio Comunique-se, com 17 troféus, e o único a ganhar em três
categorias diferentes (Âncora de Rádio, Colunista de Notícia e Âncora de TV).
Em pesquisa do site Jornalistas & Cia em 2014, que listou cem profissionais
do setor, Boechat foi eleito o jornalista mais admirado.
De acordo com o Portal dos
Jornalistas, as vitórias no Prêmio Esso foram:
Reportagem, em 1989, pela
Agência Estado, com Aluizio Maranhão, Suely Caldas e Luiz Guilhermino;
Informação Política, em 1992,
por sua coluna em "O Globo", com Rodrigo França;
Informação Econômica, em 2001,
novamente por sua coluna em "O Globo", com Chico Otávio e Bernardo de
la Peña.
Em 1998, Boechat lançou ainda
o livro “Copacabana Palace – Um hotel e sua história” (DBA).
JORNALISTAS LAMENTAM A MORTE
DE RICARDO BOECHAT EM UM ACIDENTE DE HELICÓPTERO EM SP
Filho de diplomata, Ricardo
Eugênio Boechat nasceu em 13 de julho de 1952, em Buenos Aires, na Argentina.
Em entrevista ao "Memória
Globo" em 2000, contou que começou a trabalhar assim que deixou a escola,
na virada de 1969 para 1970, após um período de militância em que fez parte do
quadro de base do Partido Comunista em Niterói (RJ). O pai de uma amiga, que
era diretor comercial do "Diário de Notícias", foi quem o convidou.
"Se me perguntar fazendo
o quê, eu, nada, olhando, juntando um papel, às vezes até limpando a mesa, não
que alguém me pedisse isso, não. (...) Note que eu mal batia à máquina, não
tinha noção de rigorosamente nada. Tinha morado a vida inteira em Niterói. O
Rio de Janeiro para mim era o exterior." Um de seus primeiros textos foi
uma nota exclusiva sobre Pelé, que lhe garantiu mais espaço no jornal.
Depois, Boechat passou a
escrever na coluna de Ibrahim Sued (1924-1995), no mesmo "Diário de
Notícias". Sobre este trabalho, afirmou:
"Era uma coluna de grande
repercussão; era a coluna. (...) Era uma coluna que se prevalecia desta
situação de visibilidade, de notoriedade do seu titular. Era uma coluna feita
por uma equipe pequena, eram dois repórteres trabalhando e ele, muito
idiossincrática. A notícia era, para ele, o que ele achava".
Boechat considerou o período
de 14 anos em que trabalhou com Sued como "uma coisa decisiva para minha
formação como repórter". "Não foi o Diário de Notícias, a militância,
os jornaizinhos, mimeógrafos para o Partidão ou para o MDB de Niterói que me
deram nenhuma base como repórter; o Ibrahim é que fez."
Ele ainda disse que
"Ibrahim talvez tenha o maior fenômeno da imprensa brasileira de todos os
tempos, como personagem, como figura".
"Eu pude ter uma escola
na qual a doutrina era procurar informações, e por trás de mim o primeiro e
maior dos pitbulls que eu já conheci, que era ele, rosnando no meu ouvido 24
horas por dia. [Eu] Dormia tendo pesadelo, acordava tendo pesadelo que a
notícia estava ruim, a imagem dele rasgando o noticiário, dizendo que era ruim,
era diária. Então aquilo me fez – a custa de muita esofagite, úlcera, insônia e
outras mazelas – aprender o pouco que eu sei hoje de apurar notícia, de correr
atrás de notícias, de apresentar essa notícia para o leitor."
Boechat saiu em 1983, quando a
coluna já era publicada em "O Globo", após uma briga com o titular.
Mudou-se, então, para o "Jornal do Brasil", a convite do concorrente
Zózimo Barroso do Amaral, tendo RETORNADO A "O GLOBO" POUCO DEPOIS,
NA COLUNA "SWANN".
Em uma segunda passagem pelo
jornal, que durou até 2001, foi titular de uma coluna que levava o seu nome.
Sobre os temas de suas notas,
descreveu: "Meu negócio é esse garimpo. O conteúdo de notícias, se pode
gostar ou não gostar da coluna, gostar ou não gostar daquele tópico, mas em
nenhum tópico você encontrará algo que não seja uma notícia. Pretensamente em primeira
mão, pretensamente correta. Isto era experiência que eu trazia do Ibrahim,
forjada à chicote".
QUESTIONADO SOBRE OS MOMENTOS
MAIS MARCANTES DA CARREIRA, BOECHAT REAFIRMOU:
"Claro que, remotamente,
a minha ida para o Ibrahim em 1971, por aí. Foi o fato mais decisivo na minha
vida porque pegou um garoto que não tinha... que estava ali num 'Diário de
Notícias', um jornal vivendo os últimos anos de sua curta existência e que
fatalmente ficaria por ali mesmo. Não demonstrava nenhum talento especial para
nada dentro de uma redação e cai na mão de um mito, um monstro sagrado do
jornalismo, do colunismo, e que com a sorte de ser esse mito, esse monstro
sagrado um homem com uma profunda sensibilidade para informação, para a
notícia".
Ele também destacou sua
passagem por "O Globo" – "para uma coluna que registrou, em seu
cotidiano, as consequências da minha chegada, pela mudança em seu conteúdo de
maneira muito visível, muito rápida, o que fez com que o mercado e o próprio
'Globo' identificasse em mim alguém capaz de fazer aquele tipo de trabalho
ali".
Além da atuação em redações,
Boechat trabalhou em 1987 na Secretaria de Comunicação do Estado, no Rio de
Janeiro, a convite de Moreira Franco, então governador.
Ricardo Boechat era casado com
Veruska Seibel e tinha seis filhos.
Fonte : G1
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