O
senador Armando Monteiro (PTB) avaliou como um erro do governo eleito a ideia
de criar o superministério da Economia, fundindo Fazenda, Planejamento e
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Líder empresarial
respeitado em todo o país e ex-ministro da Indústria, Armando criticou as
declarações sobre o setor produtivo feitas pelo futuro ministro da Economia,
Paulo Guedes. Na avaliação do senador pernambucano, a fusão dos ministérios da
Agricultura e Meio Ambiente é uma medida “extravagante”, além de afirmar que as
mudanças não trarão economia aos cofres públicos. Veja abaixo os principais
trechos da entrevista concedida por Armando ao programa de Geraldo Freire, na
Rádio Jornal, do Recife, na manhã desta quarta-feira (31):
SOBRE DECLARAÇÕES DE PAULO
GUEDES
“Eu responderia dizendo:
vamos salvar a indústria apesar dos economistas. Eu vejo muito mal uma posição
de alguém que ainda não assumiu a pasta, de alguém que não detém uma maior
experiência na gestão pública, que não faz uma interlocução com os setores da
chamada economia real e já sai, antes mesmo de assumir, revelando preconceitos,
criando uma indisposição com os setores. É um mau sinal. Ele precisa
compreender adequadamente a natureza das demandas”.
SUPERMINISTÉRIO DA ECONOMIA
“Essa ideia de
superministério foi adotada ao tempo do Governo Collor e não deu certo. O
Brasil não precisa de um czar na economia. Evidentemente que a política
econômica precisa de uma coordenação fina entre a política monetária, a
política cambial, a política fiscal, mas no mundo inteiro os setores produtivos
se representam através de um canal próprio no governo, o que não significa
dizer que não passe por uma mediação do ministro da Fazenda. Os países
desenvolvidos possuem um Ministério da Indústria, porque você tem que ter essa
interface com o setor produtivo”.
EXTINÇÃO DO MINISTÉRIO DA
INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR
“Você deixar de ter um canal
de interlocução com o setor produtivo, secundarizar isso, é preocupante. O que
é que será agora a área de indústria e comércio exterior? Vai ser uma
secretaria vinculada a esse superministério da Economia. Você vai conferir poderes
demais a esse ministro e vai tornar essa interlocução com os setores produtivos
uma coisa secundária. Na experiência internacional, isso não existe. Então, eu
lamento que essa questão possa ser resolvida de supetão. Essa figura do
superministro não funciona, a meu ver, e lamento mais ainda que o ministro já
chegue revelando tantos preconceitos. Eu lamento que isso possa ter sido
decidido dentro de um grupo tão pequeno, sem ouvir os setores produtivos”.
IMPORTÂNCIA DO MINISTÉRIO
“O ministério tem uma
estrutura, tem uma área que trata de política industrial e de todo o
atendimento das demandas do setor industrial, tem uma área de comércio
exterior, tem uma Secretaria de Comércio e Serviço que trata da situação da
atividade comercial no país. Você recebe (demandas) de toda parte… da política
comercial em relação ao mundo, a negociação dos acordos comerciais, toda a
política de defesa comercial, antidumping, para proteger setores da indústria
de práticas desleais de comércio. Portanto, o Mdic tem uma estrutura que foi
formada ao longo do tempo. É uma estrutura que atua fortemente na definição das
políticas industriais, na gestão de todos os problemas na interlocução da
indústria com o governo, na promoção dos acordos comerciais, na definição de
políticas de defesa comercial e toda a interlocução também com o setor
comercial brasileiro. É uma entidade que cumpre um papel muito importante, não
estou dizendo isso porque fui ministro, é porque essa estrutura foi ao longo
dos anos se fortalecendo”.
FUSÃO DE AGRICULTURA E MEIO
AMBIENTE
“Parece-me uma coisa
totalmente equivocada. Você veja, por exemplo, meio ambiente não se refere
apenas à Agricultura. Qualquer obra de infraestrutura passa por uma avalição de
meio ambiente. Se você discute, por exemplo, saneamento, isso tem uma interface
na área de meio ambiente. Portanto, você colocar essa área dentro do Ministério
da Agricultura é algo que me parece extravagante, não tem realmente sentido”.
FUSÕES SEM REDUÇÃO DE GASTOS
“Essas reduções de
ministérios, elas se apoiam em uma premissa que se revela ao final falsa, que é
de que isso vai produzir uma grande economia na máquina pública. Na realidade,
vão mudar as caixas. Essas estruturas dos ministérios que vão ser incorporados
se transformam em secretarias, a estrutura permanece, e ao final essa economia
não se confirma. Então, o que se faz é uma ação simplificadora que não resulta
em ganhos de eficiência e desempenho da máquina pública”
Fonte : Agreste Violento
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