Um crânio de idade aproximada de 2 mil anos,
encontrado no Sítio Arqueológico Furna do Estrago no município de Brejo da
Madre de Deus, terá seu rosto revelado pela ciência no próximo dia 24 de abril.
Será a primeira reconstituição de um ser pré-histórico da região nordestina por
meio de um programa de Reconstrução Facial Forense (RFF), técnica que consiste
em restaurar a aparência de um indivíduo em vida por meio das características
do crânio.
Chamado apenas de “flautista”, a peça
histórica, integrante de uma tribo indígena, foi encontrada durante uma
escavação realizada na década de 1980, quando foram recuperados outros 83
crânios, que hoje estão no acervo científico do Museu de Arqueologia da
Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). A reconstituição ocorrerá graças
ao grau de conservação em que o flautista foi encontrado. O trabalho será feito
por uma equipe multidisciplinar de várias partes do País, composta por
arqueólogos, cirurgião plástico, biólogo, designer e historiador.
A possibilidade de reconstituir as feições do
índio ganhou vida após os estudiosos se interessarem em conhecer a face da
população pré-histórica da tribo, que vem sendo associada às primeiras
características do homem nordestino contemporâneo. Escolhido por ser uma das
peças mais emblemáticas do museu, sabe-se que o crânio em questão é de um homem
adulto, com cerca de 45 anos, que morreu possivelmente de morte natural. Ele se
destacou durante as escavações por conta do seu “enxoval” funerário – como são
chamados os adornos enterrados junto ao corpo.
Chamou a atenção, em primeiro lugar, uma
flauta confeccionada em uma tíbia humana (um dos ossos da perna), que estava
entre os seus braços, talvez para emitir algum som de alerta para a tribo.
Ainda com ele havia 22 contas de sementes, supõem os pesquisadores, de um
provável colar, que o destacava dos demais integrantes do grupo.
“Acredita-se que ele tinha uma postura
importante na tribo, pois quanto maior o número de contas de semente, maior a
hierarquia dentro dessa tribo da Furna do Estrago”, observa a coordenadora do
Museu de Arqueologia e uma das participantes do projeto, a bióloga Roberta
Richard.
Outro fato curioso é o estado em que foram
encontrados os crânios na Furna do Estrago. Todos estavam encobertos por fibras
vegetais, como num ritual de sepultamento. Entre as plantas, o caroá (da
família das bromélias) e folhas de palmeiras, usadas também para a fabricação
de cestas e redes. A dieta, porém, não era das melhores. As inflamações
encontradas na dentadura do flautista dá indícios de que era alto o consumo de
glicose, composta nos frutos. Eles também gostavam de se alimentar do caracol
gigante, também chamado aruá-do-mato.
Pelos achados, supõe-se que o flautista vivia
numa tribo caçadora-coletora. É o que acredita o coordenador de Pesquisa e Estudos
Arqueológicos e Históricos da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Flávio
Moraes, um dos pesquisadores envolvidos no trabalho.
“Revelar o rosto do flautista será um avanço
significativo para a arqueologia, uma vez que vamos nos deparar diretamente com
um indivíduo ainda não compreendido em sua totalidade pela ciência. Por meio
das características físicas, vamos saber o fenótipo de toda a tribo, como o
tipo de olhos e cabelo, e a dinâmica da vida deles, até porque se trata de uma
população de 2.000 anos que já conseguia polir e manusear utensílios para
cortar carnes e quebrar sementes, por exemplo”, conta Moraes.
Próximos
passos - A primeira parte do trabalho consistiu em digitalizar o crânio em 3D,
por meio do escaneamento de fotos registradas em vários ângulos. O próximo
passo – e o mais complexo – será modelar sobre ele os músculos principais da
face e complementar com o restante dos chamados tecidos moles (a exemplo de
gorduras e glândulas) e projetar a espessura da pele. O resultado será revelado
ao público às 19h, no próprio Museu de Arqueologia da UNICAP, que fica na
avenida Oliveira Lima, 824, na Boa Vista. “Dia 24 de abril será o grande dia”,
brinca Roberta Richard.
Fonte :
Blog Agreste Notícia
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