O condutor
da lancha que atropelou e matou banhistas na Ilha Grande, em Angra dos Reis, na
Costa Verde do Rio de Janeiro, pagou fiança de R$ 2 mil e foi liberado na noite
de sexta-feira (30). Ele foi autuado por duplo homicídio culposo e dupla lesão
corporal culposa.
Segundo o delegado titular
da 166ª Delegacia de Polícia, Bruno Gilaberte, o marinheiro afirmou em
depoimento que já havia sinalizado para o proprietário — que também estava na
embarcação no momento da tragédia — um problema no acelerador, e que este já havia
sido resolvido.
O advogado do condutor
afirmou que "ele é tão vítima quanto os turistas, porque ele também estava
em uma lancha com falha mecânica".
A polícia trabalha com duas
linhas de investigação no caso. A primeira é que a distração do condutor fez
com que ele perdesse o controle da lancha e a outra é que realmente tenha algum
defeito técnico. “Nas duas hipóteses teria ocorreria uma imperícia dele como
condutor da embarcação, e portanto a culpa”, afirmou o delegado.
Passeio de barco
Quatro banhistas foram
atropelados no acidente, que ocorreu em Angra dos Reis (RJ), na região da Ilha
Grande conhecida como Lagoa Azul. As vítimas faziam um passeio de barco no
feriado da Semana Santa.
O grupo, de cerca de 30
pessoas, brincava na água com boias. A área do acidente é restrita às escunas,
que ficam atracadas para que os turistas nadem ao redor das embarcações. O
local é conhecido pelas belezas naturais, entre elas a água cristalina. Os
turistas estavam tirando fotos dentro da água, em uma parte que o barco para no
mar para que eles pulem da água, quando a lancha os atropelou.
Em nota, a Marinha informou
que "notificou o condutor, apreendeu a embarcação para perícias e reteve o
documento de habilitação do condutor para averiguações posteriores, conforme previsto
na Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário (Lei 9.537/97) e nas Normas da
Autoridade Marítima (NORMAM)".
Procurado pelo G1, o
proprietário da lancha informou que não vai se pronunciar sobre o assunto.
Sobrevivente relembrou
momento
Uma das sobrevivente, Camila
Martinez Précoma, contou em uma mensagem de áudio à mãe que a família e os
demais ocupantes da escuna estavam tirando fotos dentro da água quando a lancha
os atingiu.
Ela relembrou o momento do
impacto. "Era muito grande a lancha que nos atropelou. Só lembro que ela
veio de lateral, vi que ele [piloto] tentou fazer uma curva, empurrei com a
mão, mas senti meus dois pés passarem na hélice", afirmou Camila.
De acordo com a Polícia
Civil, Alexandre da Silva Leite, de 43 anos, morreu no local e Walquíria de
Almeida Barros, de 29 anos, chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos
ferimentos. O homem teve cortes no corpo todo e a mulher, cortes profundos nas
pernas.
Além de Camila, que teve um
dedo do pé amputado, a lancha atingiu Natacha de Oliveira Soares, de 27 anos.
Ela também teve ferimentos graves e passou por cirurgia, mas não corre risco de
morrer.
Estado de saúde das
sobreviventes
Camila e Natacha permanecem
internadas neste sábado (31) no Hospital Geral da Japuíba, em Angra. De acordo
com a unidade médica, o estado de saúde delas é estável e inspira cuidados
pelas infecções. Não há previsão de alta.
Médica relatou desespero
A médica Maria Alice Pulga,
amiga que prestou os primeiros socorros às vítimas, relatou os momentos de
desespero do grupo após a lancha atropelar os banhistas. "Foi um
desespero, uma gritaria".
A médica de São José dos
Campos (SP) estava na água conversando com as amigas Natasha e a Camilla,
sobreviventes do atropelamento. Ela disse que viu a lancha se aproximando em
alta velocidade, mas achou que o piloto conseguiria fazer o desvio.
"Na hora eu vi que a
lancha vinha em nossa direção, mas você nunca pensa que o piloto não vai
desviar. Mesmo assim eu recuei levemente, então foi em uma fração de segundo
que a lancha passou por nós, fazendo uma onda, seguida por gritaria. A água
ficou vermelha de sangue", relembrou.
Ela disse que a amiga
Natasha de Oliveira e a advogada Camila Précoma, sobreviventes do impacto,
começaram a gritar após serem atingidas nos pés. "As pessoas gritavam e
choravam. Na hora saímos da água e comecei a tentar estancar o sangue do pé da
Natasha. A Camila, ferida, já estava na embarcação. Não consegui perceber a
gravidade do ferimento da Walquiria. Ela estava sendo retirada da água pelos
nossos amigos. Ela sofreu um corte profundo parte posterior da coxa",
afirmou. Walquiria não resistiu e morreu durante o socorro.
Alexandre da Silva Leite,
era do Rio de Janeiro, também faleceu. Ele foi o primeiro a ser atingido pela
lancha, segundo testemunhas. O homem morreu no local.
Procurador fez recomendação
O procurador Ígor Miranda da
Silva, do Ministério Público Federal em Angra dos Reis, afirmou ao blog do G1
que elaborou uma recomendação, em dezembro de 2017, requisitando providências
administrativas do Ibama, da Marinha e da prefeitura para garantir maior
segurança aos banhistas nas praias da cidade litorânea do estado do Rio de
Janeiro.
"Elaborei a
recomendação após presenciar a absurda proximidade de embarcações [lanchas e
escunas] de banhistas em diversas praias de Angra dos Reis. Nesse sentido,
requisitei providências administrativas pelo IBAMA, Marinha e Prefeitura da
cidade. Dos recomendados, somente a prefeitura não respondeu", disse o
procurador.
Na recomendação, o
procurador lembrou que o turismo náutico é o segmento de maior destaque no
município. Segundo ele, era necessário, já em dezembro de 2017, que a
fiscalização de transportes marítimos, em especial os turísticos, fosse
intensificada, dificultando eventuais prejuízos à segurança, ao meio ambiente e
também à saúde das pessoas.
"É evidente que o caso
[desta sexta] exige apuração e, espero, que sirva como motriz para maior
segurança no turismo marítimo angrense", completou Ígor Miranda.
Fonte : G1
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