Um
ano após um carnaval de acidentes e tristes lembranças, a Paraíso do Tuiuti deu
a volta por cima e conquistou o vice-campeonato em 2018. A tragédia que causou
uma morte e deixou 19 feridos, atropelados por um carro alegórico desgovernado,
ainda está fresca na memória e tornou ainda mais emocionante o resultado
anunciado nesta Quarta-feira de Cinzas (14). Uma espécie de renascimento da
escola de São Cristóvão, que nunca havia subido ao pódio do Grupo Especial.
Críticas na Avenida
Com o enredo "Meu Deus,
meu Deus, está extinta a escravidão?”, a Paraíso do Tuiuti, do carnavalesco
Jack Vasconcelos, levou à Sapucaí críticas à reforma trabalhista em seu desfile
na madrugada de segunda (12).
No último carro, batizado de
"Neo tumbeiro", o destaque no alto foi um "presidente
vampiro" do neoliberalismo, representado pelo professor de história Léo
Morais. Assistente do carnavalesco, ele não admite abertamente que o vampiro
representava Michel Temer, mas afirmou que é a favor dos protestos contra o
presidente.
Outra crítica do
carnavalesco foi colocar na avenida uma ala com fantasias de "manifestantes
fantoches", ironizando os que foram às ruas vestindo camisas do Brasil
pedindo impeachment.
“A escola fez uma crítica
que está entalada na goela do brasileiro. Os empresários e governantes sempre
ficam fazendo o povo de escravo. Mas nós estamos felizes com o segundo lugar
por mostrar para o mundo que não somos escravos. A bateria não foi o que
esperávamos ainda. Mas a gente ainda não está pensando no ano que vem, agora é
comemorar”, afirmou o mestre Ricardinho, um os diretores da bateria.
Muito emocionados, os
integrantes comemoraram o vice como se fosse um título. “É muita emoção. Isso é
fruto de muito trabalho que um grupo que começou o ano rebaixado e a gente
chega a vice-campeão do carnaval. Parabéns à Beija-Flor, parabéns a todas as
escolas“, disse Thiago.
O título de vice-campeã
pegou muitos moradores do bairro de São Cristóvão de surpresa. Por volta de
17h, o entorno da escola Paraíso do Tuiuti ainda estava deserto. Mas dentro da
quadra, integrantes da escola já comemoravam a notícia. O trânsito na Rua
Figueira de Mel foi fechado às 17h30.
Moradora da região, Joyce
Pimenta se emocionou ao falar da luta depois do último carnaval. “Nós moramos
na comunidade do Tuiuti. Quando soubemos que a escola estava precisando de
ajuda, a gente desceu para o barracão para colocar a mão na massa (...) Somos
uma comunidade unida, que lutou muito. Até na concentração a gente lutou. Eu
entrei na avenida com a minha roupa branca toda suja, porque eu estava ajudando
em mil lugares, tudo para o carnaval sair. E agora a gente vê um resultado
trilhado desde maio”, disse.
Andréa Maria Laurino disse
que espera há, pelo menos, sete anos ver a escola ser vista.
Edson Reis chegou apressado
para começar as vendas na calçada da escola. “Agora todo o encalho do ano
passado vai embora. Trouxe 100 blusas, mas com certeza vai acabar rápido. Cada
uma custa R$ 50. Vai ser sucesso”, garante.
Relembre o acidente
Um carro alegórico da Tuiuti
deixou 20 pessoas feridas no o primeiro dia de desfiles das escolas de samba do
Grupo Especial do Rio em 2017 – 26 de janeiro de 2017, domingo de carnaval.
O problema ocorreu quando o
carro ficou desgovernado logo na entrada no sambódromo da Marquês de Sapucaí,
na altura do Setor 1 da arquibancada. Pessoas ficaram prensadas na grade que
separa a pista da arquibancada.
A radialista Elizabeth
Ferreira Joffe, de 55 anos, também conhecida como Liza Carioca, morreu cerca de
dois meses após o acidente. No dia do acidente, em fevereiro, ela chegou a ser
levada para o Hospital Souza Aguiar, mas depois foi transferida para o Hospital
Quinta D'Or, em São Cristóvão, onde teve anemia e pegou uma infecção
bacteriana. Segundo a família de Liz, ela foi submetida a sete cirurgias após o
acidente.
Outra vítima do acidente que
ficou em estado grave é a fotógrafa Lúcia Regina de Mello Freitas, de 56 anos,
que passou quatro meses internada. Ela teve fratura exposta na perna e ficou em
estado grave na UTI do hospital Miguel Couto. 'A luta foi pra eu ficar com a
minha perna e eu estou indo para a casa com ela', festejou.
A Polícia Civil indiciou
quatro pessoas pelo acidente no domingo de carnaval. O motorista Francisco de
Assis, o engenheiro Edson Gaspar e os diretores de carnaval, Leandro Azevedo, e
de alegorias, Jaime Benevides. Eles responderão por imperícia, imprudência e
negligência. O motorista foi indiciado também por lesão corporal culposa.
O motorista do carro pediu
perdão às vítimas do acidente e disse não ter tido culpa no episódio. Dois
filhos dele afirmaram que o pai não sabia que o carro alegórico dirigido por
ele seria acoplado a outro veículo.
Fonte : G1
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