È comum
nessas semanas que antecedem os primeiros treinos da pré-temporada, fãs da F1,
profissionais do evento e mesmo jornalistas discutirem o que faz mais sentido
esperarmos do início do campeonato. A maior parte das conversas se concentra em
quem tem, ao menos na teoria, mais chances de vencer as corridas. De fato, é o
que mais importa.
Mas, em especial este ano,
há uma luta que pelo andar da carruagem deverá ser tão interessante quanto a
disputa pelo primeiro lugar nos domingos e a pole position aos sábados: é a da
melhor equipe depois das três que, salvo surpresa, sempre possível, devem
protagonizar a competição, Mercedes, Ferrari e RBR.
Em 2017 não teve para
ninguém. A Force India reservou a quarta colocação para si desde as primeiras
etapas e ampliou a vantagem para os concorrentes ao longo do ano. Depois do GP
de Abu Dhabi, 20º e último do calendário, havia somado 187 pontos, enquanto a
Williams, em quinto lugar, menos da metade, 83.
Antes mesmo de os treinos
livres da sexta-feira começarem, sabíamos de antemão que a excelente dupla de
pilotos da Force India, o francês Esteban Ocon e o mexicano Sérgio Perez, se
classificariam para o grid atrás somente dos pilotos de Mercedes, Ferrari e
RBR, quando não lhes surpreendiam também, e receberiam a bandeirada, em
condições normais, apenas atrás deles.
Pois bem, essa ordem de
forças depois das três grandes, tão bem definida em 2017, provavelmente não
existe mais. Os testes de inverno, programados para começar dia 26 de fevereiro
no Circuito da Catalunha, em Barcelona, poderão comprovar o que a maioria na F1
espera: a luta pelo quarto lugar vai ser ponto a ponto e envolvendo pelo menos
três times, podendo chegar a quatro.
Portanto, você que gosta de
F1 pode vir a dispor de um belo espetáculo não apenas lá na frente, mas dentre
os que deverão digladiar para ser o melhor do restante, depois de Mercedes,
Ferrari e RBR.
Quer saber quem são? Há
lógica em vermos a própria Force India, a possivelmente ascendente McLaren,
agora equipada com unidade motriz Renault, em vez de Honda, a Renault, muito
mais bem estruturada, e a Williams, com Paddy Lowe, ex-Mercedes, no comando
técnico, apesar da pouca experiência de seus dois pilotos, o canadense Lance
Stroll, de 19 anos, e o russo Sergey Sirotkin, 22, estreante.
Uma consideração importante:
isso admitindo-se que Mercedes, Ferrari e RBR repetirão o que vimos em 2017, as
vitórias sendo divididas entre si, 12 para a Mercedes, 5, Ferrari, e 3, RBR.
Não existe nenhuma garantia de que será assim na temporada que vai começar dia
25 de março em Melbourne, na Austrália.
Vimos nas reportagens
anteriores que o regulamento este ano, em essência, é o mesmo de 2017, mas as
pequenas mudanças podem gerar grande impacto na produção das escuderias. São
elas: a introdução do halo, a proteção para a cabeça do piloto, e seus imensos
desdobramentos no projeto dos carros, os novos pneus Pirelli, mais macios, cuja
consequência será corridas com mais pit stops, e a severíssima limitação de
três unidades motrizes por piloto para as 21 etapas deste ano.
Desbancar o trio de ferro
Nada impede de uma dessas
equipes que a maioria espera apenas lutar pelo quarto lugar entre os
construtores, Force India, McLaren, Renault e Williams, surpreender com um belo
projeto e seus pilotos desbancarem os do trio de ferro. Seria extremamente
saudável para a F1.
Admitindo-se, no entanto,
que ainda não dá para as quatro enfrentar Mercedes, Ferrari e RBR, o pega entre
elas deverá ser para valer. Vamos ver por quê?
A Force India vem provando,
desde a introdução da tecnologia híbrida na F1, em 2014, ser a organização que
melhor aproveita cada libra esterlina do seu orçamento de 90 milhões (R$ 400
milhões), o menor junto da Sauber. É a campeão de fazer cada centavo gerar
performance do carro e da escuderia de modo geral.
E este ano a obrigatoriedade
do halo representa um senhor desafio de engenharia para o grupo coordenado por
Andrew Green, exame que costuma superar com desenvoltura, como regra com maior
eficiência que até mesmo alguns adversários de orçamentos bem superiores.
Assim, a Force India é
candidata séria em 2018 a, no frigir dos ovos, manter-se na quarta colocação
entre os construtores. Ocon e Perez, no entanto, sabem muito bem que não deverá
ser como em 2017, sem concorrência.
McLaren, recomeço
O primeiro time que tudo
indica vai progredir bastante este ano é a McLaren. Não há como não imaginarmos
Fernando Alonso e Stoffel Vandoorne largando bem mais na frente no grid e
lutando por posições melhores que as da época da associação recente entre a McLaren
e a Honda. A unidade motriz Renault nas mãos de uma organização da estrutura da
McLaren não tem como não gerar melhores resultados que o dos últimos três anos:
nona e penúltima, em 2015, sexta, em 2016, e penúltima de novo em 2017.
É verdade que será
surpreendente se Alonso e Vandoorne passarem a lutar com Max Verstappen e
Daniel Ricciardo, da RBR, por terem a mesma unidade motriz Renault. Pouco
provável. Mas vê-los no Q3 com regularidade e em uma ou outra prova beliscando
um pódio não parece ser um sonho de noites chuvosas de verão.
O chassi do monoposto de
2017, MCL32-Honda, recebeu elogios dos pilotos. Em uma pista onde a potência
conta menos, como a da Hungria, Alonso obteve o melhor resultado do ano, sexto
lugar. Vandoorne, em outro traçado onde os cavalos pesam um pouco menos, Marina
Bay, em Cingapura, ficou em sétimo.
Peter Prodromou, coordenador
do projeto de 2017 e 2018 da McLaren, prepara uma evolução da boa base
apresentada no ano passado. Com a diferença de dispor, agora, de bem mais
potência e, principalmente, confiabilidade. Mais: Alonso e Vandoorne formam uma
grande dupla de pilotos.
Dá para ver que o modelo
MCL33-Renault, a ser apresentado dia 23, pode no mínimo permitir a McLaren
lutar pelo quarto lugar entre as equipes?
Renault, tudo novo
Outra candidata é a Renault.
Os franceses assumiram a Lotus no Natal de 2015 e disputou o mundial de 2016
com o carro da Lotus daquela temporada adaptado a sua unidade motriz. Competia
com Mercedes. Sabia que em termos de resultados seria um ano perdido. Ao longo
dos dois últimos anos, contratou muitos profissionais, mais de 100 (o número é
esse mesmo, cem), para exercer as funções extintas por Gerhard Lopez, ex-dono
da Lotus, por falta de recursos para mantê-los.
O carro que a Renault vai
lançar dia 20 é a rigor o primeiro dessa nova estrutura recriada pela montadora
na sede de Enstone, na Inglaterra, onde trabalham hoje mais de 500
profissionais. Ao mesmo tempo, Cyril Abiteboul, diretor do time, e Alain Prost,
embaixador, convenceram o presidente da Renault, Carlos Ghosn, a investir na
sede de Viry-Chatillon, ao sul de Paris, onde são produzidas as unidades
motrizes. Sem essa reestruturação também não seria possível a Renault voltar a
pensar em vitórias.
Todos esses elementos nos
levam a acreditar que o modelo RS18 concebido por um grupo capaz, liderado por
Bob Bell e Nick Chester, equipado com uma unidade motriz mais eficiente que a
de 2017, vencedora de três GPs no carro da RBR, deve permitir aos bons pilotos
Nico Hulkenberg e Carlos Sainz Júnior levar a Renault crescer na tabela. Não é
ser irrealista imaginar a organização francesa lutando pelo quarto lugar. Foi
sexta em 2017.
Williams, a competência de
Lowe
Por fim a Williams. O
discurso é semelhante ao da Renault. Paddy Lowe logo viu, no começo do ano
passado, que a primeira providência seria remontar o departamento de projetos.
O especialista em aerodinâmica agora é Dirk de Beer, o mesmo que junto de James
Allison concebeu o veloz e equilibrado SF70H da Ferrari em 2017. Dave Redding,
ex-McLaren, assumiu a chefia da Williams, dentre outros profissionais que Lowe
levou.
O modelo FW41-Mercedes da
Williams, a ser lançado dia 15, é o resultado de um novo time de projetistas. E
vai estar equipado com uma unidade motriz, Mercedes, potencialmente capaz de
fazer toda diferença em 2018, por conta da restrição sem pé e sem cabeça de
três unidades motrizes por piloto para as 21 etapas do calendário.
Se a unidade alemã ratificar
os dotes excepcionais de 2014 para cá, a Williams poderá capitalizar bastante,
em especial na segunda metade do campeonato, com as esperadas punições no grid
aos pilotos que vão correr com unidade motriz não Mercedes. De novo, isso
levando-se em consideração o que temos visto na F1 há quatro anos. Pode ser que
a nova unidade motriz de Ferrari, Renault e Honda surpreendam positivamente.
Seria uma das melhores notícias para a F1.
O problema maior da
Williams, mais no início de preparação e desenvolvimento do FW41, será a
inexperiência de seus pilotos. Lance Stroll, 19 anos, vai para a segunda
temporada. Já o russo Sergey Sirotkin, 22, estreia na F1. No papel, o desafio
da Williams de pular de quinta para a quarta colocação entre os construtores é
maior que da McLaren e Renault, por esse motivo, principalmente.
Mas se Stroll e Sirotkin
crescerem, como também faz sentido esperarmos, a Williams pode superar talvez o
início difícil para depois se impor nessa luta com maior possibilidade de obter
bons resultados, a ponto de já no primeiro campeonato de Lowe como sócio e diretor
técnico a escuderia dar um salto de performance.
Bem, se lá na frente a
lógica propõe que seguiremos assistindo Mercedes, Ferrari e RBR lutando pelas
primeiras colocações e depois, pelo quarto lugar Force India, McLaren, Renault
e Williams podem oferecer uma competição à parte, intensa, GP a GP, quem sobra,
então, na F1?
Os últimos do grid
Como são dez times, ficaram
de fora dessa projeção Haas, Sauber e STR. Serão eles os últimos colocados com
regularidade, nas sessões de classificação e corridas?
Uma coisa parece fazer
sentido: diante do que a Honda apresentou nos três últimos anos na relação com
a McLaren, por mais que os técnicos estrangeiros contratados pela montadora
estejam ajudando sua unidade motriz avançar, o próprio Franz Tost, diretor da STR,
deve já esperar que o lugar da Sauber no grid, em 2017, última, será ocupado
por sua equipe. Ao menos nas primeiras provas. A inexperiência de seus pilotos,
o francês Pierre Gasly, 20 anos, e o neozelandês Brendon Hartley, 28, também
não colabora.
Além disso, a associação
entre Sauber e Ferrari cresceu este ano, vai além do fornecimento da unidade
motriz, rebatizada no seu caso de Alfa Romeo. Sérgio Marchionne, presidente da
Ferrari, e da Fiat, deseja ver a Sauber mais forte, por um motivo principal:
entender o que o talentoso monegasco Charles Leclerc pode fazer na F1. Ele tem
20 anos e foi campeão da GP3, em 2016, e da F2, em 2017, nas temporadas de
estreia. Leclerc correrá pela Sauber este ano.
Ele pertence à academia da Ferrari.
Se ratificar os dotes de superpiloto que sugere possuir tem boas chances de
substituir Kimi Raikkonen na Ferrari em 2019. A Sauber, portanto, deve avançar
com o maior apoio técnico da Ferrari, reforçando a ideia de a STR andar lá
atrás.
Sobrou a Haas, com quem a
Ferrari mantém laços técnicos ainda mais estreitos, por ser seu principal
cliente na F1: Gene Haas paga uma fortuna ao time italiano pela cessão da
unidade motriz, transmissão, todo o conjunto traseiro, sistema hidráulico, uso
do túnel de vento e assessoria técnica de modo geral. Acredita-se que seja,
hoje, algo como 45 milhões de euros (R$ 180 milhões). Em 2017, a Haas ficou em
oitavo, com 47 pontos, diante de 53 da STR e 57 da Renault. Como se vê, não
muito longe.
Mas imaginar a Haas
inserindo-se na esperada luta entre Force India, McLaren, Renault e Williams
pelo quarto lugar parece difícil. Claro, nada é impossível na F1. Nunca é
demais lembrarmos que tudo não passa de um jogo de probabilidades. Pela lógica,
no entanto, diante da reestruturação e histórico das quatro, as chances de a
Haas enfrentá-las e vencer são menores.
Assim, sem grandes
surpresas, a Haas deve ficar no bloco da Sauber e, possivelmente, na frente da
STR-Honda, a não ser que os japoneses mudem radicalmente tudo o que fizeram
nesses tempos de unidades motrizes híbridas na F1.
Fonte : ge
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