Há pouco menos de duas
semanas, uma entrevista de Ronaldo Fenômeno ao jornal alemão “Bild” gerou um
bom debate: está mais fácil ser melhor do mundo hoje em dia? O ex-atacante da
seleção brasileira acredita que sim.
- Na minha geração, a
competição era muito maior do que hoje em dia, sem querer diminuir a
importância de Messi e Cristiano Ronaldo. Eles ainda vão brigar pelo título de
melhor jogador do mundo nos próximos anos, mas na minha época tínhamos Zidane,
Rivaldo, Figo, eu e depois o Ronaldinho. Aquela foi uma geração na qual ser o
melhor era muito mais difícil – disse.
Ronaldo diz que Messi e CR7
não teriam tantas Bolas de Ouro em sua geração.
As manifestações nas redes
sociais foram das mais variadas. Houve os que concordaram, os que discordaram e
até mesmo os que ficaram em cima do muro, com algumas ressalvas.
O GloboEsporte.com, então,
procurou os especialistas. Ouvimos ex-jogadores e jornalistas de diversos
veículos para descobrir se compartilham ou não com a opinião de Ronaldo. De
qual lado você está?
Juninho Pernambucano
(ex-jogador e comentarista da TV Globo)
Acho que tudo passa pela
evolução. É muito difícil comparar épocas. Mesmo da geração do Ronaldo, que era
a minha, para a atual, já tivemos evolução. Já se corre mais, também tem dificuldade.
Ser o melhor do mundo, independentemente da época, é muito difícil. Figo e
Zidane foram enormes, mas nunca foram grandes artilheiros. Então acho que não
seriam uma disputa natural hoje também.
A maior dificuldade do
jogador de alto rendimento é manter o seu melhor pelo maior tempo possível, o
sacrifício. Exemplos: Federer, Schumacher, Bolt... A exigência da profissão
também é uma qualidade do grande jogador. Porque jogar bem é fácil para esses
caras. É preciso cuidar com rigor da alimentação, ter uma força mental
fundamental, enorme responsabilidade.
O Cristiano Ronaldo e Messi,
além do talento indiscutível, tornaram-se melhores pelo trabalho. Os dois são
tão bons que ofuscam Ibrahimovic, Suárez, Neymar, Lewandowski, Robben,
Ribéry... O Ronaldo (Fenômeno) foi o melhor do mundo por três vezes por muito
mérito porque ele era, sim, desse nível. Mas os outros acho que não. Tanto que
comparo Cristiano e Messi com todos. A história talvez vai colocá-los perto do
Pelé com o tempo. E não é a história contada no Brasil que vai valer. É a
história contada no mundo. Os números que têm na Europa fazem com que se firmem
definitivamente entre os maiores da história. Ser o melhor do mundo por cinco
vezes exige muito além de talento.
Jogadores como Figo, se
jogassem hoje, não estariam sendo cotados. O Ronaldo, o Ronaldinho... houve
dois anos em que foram espetaculares. Houve jogadores que foram melhores do
mundo em alguns anos, mas hoje não estariam nem na quinta posição. O Rivaldo,
hoje, não teria em chances. Se o Neymar jogasse naquela época, teria muito mais
chances. É uma comparação assim, agora é realmente marcante. Não é só porque
faltam grandes jogadores que Cristiano Ronaldo e Messi sempre ganham. É porque
são fora de série.
O Ronaldo você poderia
discutir. Em um ano ou outro foi tão bom quanto Messi e Cristiano Ronaldo, só
que não teve a mesma regularidade.
Mauro Cézar Pereira
(comentarista da ESPN)
Discordo de Ronaldo. E por
uma razão muito simples: esses espetaculares jogadores, incluindo o próprio
Ronaldo, não teriam condições de superar Messi, ou seja, se o argentino fosse
contemporâneo deles, os derrotaria anualmente, exceto se o português também
tivesse nascido nos anos 1970. Cristiano Ronaldo se supera, vai além do que
seria seu limite normal, por isso duela com Messi, que é gênio. Ronaldo citou
craques.
Raphael Rezende
(comentarista do SporTV)
A concorrência parecia maior
nesse período, mas não porque o número de jogadores excepcionais era maior. Na
realidade, nenhum deles foi capaz de sustentar o auge da forma que Messi e
Cristiano fazem. A evolução dos supertimes globais pode até ter influenciado
nesse sentido, propiciando essa disputa por um longo período ao concentrar em
poucos times, e consequentemente em poucos jogadores, o protagonismo no futebol
europeu.
Para o Zidane, nesse mundo
onde fazer gols é uma obrigação para disputar o título de melhor do mundo, acho
que ele ficaria como o Iniesta ou o Xavi, craques sensacionais, mas que
ficariam em segundo ou terceiro, atrás do Messi e do Cristiano.
Os Ronaldos brasileiros são
diferentes. O Fenômeno teve nos seus primeiros anos números e atuações espetaculares.
E claro, o da Copa de 2002 também valeria. Ele disputaria de igual para igual.
Idem para o Gaúcho, que teve três anos circenses de tão brilhantes no
Barcelona.
O problema dos nossos
Ronaldos tem a ver com regularidade. Eles tiveram no máximo três anos cada para
de fato poderem ambicionar ser o melhor do mundo, ainda que Messi e Cristiano
jogassem na mesma época.
O argentino e o português
conseguiram estar no páreo, com chances reais de ganhar, por dez anos. E por
isso eu acho que, apesar do nosso gosto patriota, mesmo na comparação direta,
Messi, principalmente, e mesmo Cristiano, deixarão uma marca maior na história
do futebol.
Ricardo Rocha (ex-jogador e
gerente de futebol do São Paulo)
Eu concordo com o Ronaldo,
sem querer menosprezar os jogadores atuais. Mas na época dele tinham jogadores
mais qualificados. Nos últimos 10 anos só tivemos Messi e Cristiano. Tirando o
Neymar, que também poderia ganhar, não temos outros grandes nomes que poderiam
ser o melhor do mundo atualmente.
Carlos Alberto Parreira
(ex-treinador)
Quem foi melhor: Van Gogh,
Monet ou Picasso? Na música, Beethoven ou Mozart? Todos foram gênios. Não gosto
de comparar época, mas o Ronaldo tem razão. Hoje, apenas Neymar faz sombra ao
Cristiano e Messi. E não vejo tão cedo um outro jogador que possa fazer frente
a eles. Mas se fosse outra época a concorrência pela Bola de Ouro seria bem
maior e os dois não venceriam tantas bolas como vencem.
Cristiano é indiscutível. Obstinado,
profissional de estirpe, treina como ninguém. Você não encontra nada de errado
nele. Foi recompensado por tudo isso, apesar de jogar sempre com grandes
jogadores. O Messi é a essência do futebol. As jogadas dele só vi Pelé,
Maradona, Zico e Zidane fazerem.
Mauro Beting (comentarista
do Esporte Interativo)
Ronaldo foi três vezes o
melhor do mundo. Seria mais ainda fenomenal do que foi não fossem as lesões de
joelho que, desde o final de 1999 até o final de 2001, o impediram de ser ainda
mais Ronaldo. Mas ajudaram a criar o mito que botou no bolso o penta em 2002.
Mas não era “muito mais
difícil” no tempo dele ser o melhor do mundo. Em 1996, quando ganhou o primeiro
merecidíssimo prêmio da Fifa, superou Weah (que era bom, mas não tudo isso) e
Shearer (que era goleador e só isso). Ronaldo era muito acima deles. Mesmo
jogando meia temporada no PSV (que não era o Barcelona de Messi) e meia no
Barcelona (que não era o Manchester United do primeiro troféu de Cristiano
Ronaldo).
Em 1997, Ronaldo superou o
imenso Roberto Carlos e os empatados Bergkamp e Zidane. Zizou que ainda não era
O Zidane. O meia do Arsenal que era ótimo. RC que é um monstro. Tanto que foi
um dos melhores do ano. E como lateral. Contra um R9 matador no Barça e na
metade final do ano na Internazionale. Que nunca foi na época o que foi o Real
Madrid com e pelo Cristiano. Sem contar todos os Barças do Messi.
Em 2002, Ronaldo foi pela
terceira vez o Ronaldo do ano mais pela Copa espetacular pelo Brasil do que
pelo curto semestre com a Inter com um treinador que não gostava dele, e pelos
primeiros meses de Madrid. O Fenômeno superou o goleiro Kahn e Zidane (que não
jogou o Mundial por lesão). E nunca jogou em times tão bons e fortes como os
que ajudaram Messi e Cristiano a ganharem cinco troféus. Como se vê só pelos
anos em que foi o melhor, não era “muito mais difícil” a disputa. Era apenas
mais uma. Às vezes, pior. Às vezes, não.
Como em qualquer campo, o
saudosismo impera. Foi assim com Ronaldo, que diziam que Romário era melhor - e
pode mesmo ter sido. Como diziam que era Careca. Era Zico. Era Rivellino. Como
diziam, acreditem, que Zizinho era melhor do que Pelé. Como Leônidas foi melhor
do que Zizinho. Como Friedenreich foi melhor do que todos. Adão foi melhor que
Abel. É isso. E sempre será assim. Ronaldo é um fenômeno por tudo. E seria
muito mais não fossem os joelhos. Mas tem muita gente hoje que joga demais. E
não apenas Messi e Cristiano.
Fonte : Ge
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